quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Sempre existiram cotas nas Universidades, para brancos e endinheirados

Mas, como definir quem é negro, perguntam os racistas incautos. Eu sugiro uma metodologia muito simples: coloque na banca examinadora um PM, uma gerente de loja de um Shopping Center, um empregador que exige boa aparência, um diretor de televisão, uma mãe cafetina procurando um bom partido pra filha etc.
Não faltam agentes sociais versados em identificar negros e discriminá-los. A hipocrisia é que cega a sociedade!http://diariogauche.blogspot.com/2008/12/globo-defende-elite-branca-e-de-olhos.html
Clique no link acima para ler o ótimo artigo de Lelê Teles no Diario Gauche.

Pequeno desatino


Presente do Rafael Sica.
Valeu mestre Sica!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Rapina pouca é bobagem!


Os urubus continuam com sede de carniça. Querem que a crise - gerada pelo modelo que eles pregaram como o ideal e aplicaram durante duas décadas e agora se revela a fonte essencial da crise – leve à derrota dos governos atuais na America do Sul, que volte a direita, que os representa politicamente. Que as economias da região entrem em recessão, que as políticas sociais não possam ser levadas adiante, que os governos percam apoio, que volte a direita.

Enquanto isso, tem que tomar muita aspirina, para agüentar o sucesso de Evo Morales, de Rafael Correa, de Lula, de Hugo Chávez, que abatem os urubus no vôo.
Postado por Emir Sader às 11:28

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Até quando?


Sodomia de crianças

Seymour Hersh, do New Yorker, o primeiro jornalista a denunciar as torturas praticadas pelos soldados americanos na prisão de Abu Ghraib, Iraque, afirmou, durante palestra que assistiu a tapes “onde podíamos ver as crianças sendo sodomizadas. O pior de tudo era ouvir seus gritos”. Sodomia de crianças é a última manifestação da democracia exportada pelo delinqüente Bush. É a democracia que fala em liberdade de imprensa, mas não permite que essas verdades sejam divulgadas. Crianças com 8 anos de idade servindo a apetites medonhos de bárbaros que invadiram seu país para aumentar os lucros das empresas". Agora que o delinqüente e terrorista número 1 do planeta está se preparando para ir para casa, o que mudou no Iraque?Vejamos: Estatísticas do governo indicam que cinco milhões de crianças vivem em péssimas condições econômicas. 760.000 não puderam voltar à escola primária este ano e cerca de 25.000 perderam seus lares. As organizações humanitárias informam que o número de órfãos iraquianos aumentou em 500 mil. Segundo a Save the children, uma de cada oito crianças iraquianas está vivendo agora nas ruas. O Fafo Institute for Applied Social Science da ONU informa que há pelos menos 400 mil crianças que sofrem de desnutrição. A organização Childhood Voices Association que cuida de crianças informa que só em Bagdad há 11.000 crianças dependentes de drogas, que muitas meninas entre 12 a 16 anos têm sido vitimais de estupros. Além disso, mais de 1.300 crianças entre oito e 12 anos encontram-se detidas em prisões construidas pelos invasores estadunidenses sofrendo violências sexuais.
Pergunto: o delinqüente Bush merece ou não ser julgado por crimes de guerra?
Postado por bourdoukan às 14:43:00 3 comentários Links para esta postagem

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Nota de repúdio

As entidades abaixo-assinadas manifestam seu mais veemente repúdio à posição adotada pelo Advogado Geral da União, José Antônio Dias Tóffoli, em defesa dos agentes torturadores. Tal posição vai em sentido contrário dos anseios da Sociedade Brasileira, que exige apuração, responsabilização e punição de autores e mandantes de torturas contra presos políticos durante a ditadura militar. As alegações da AGU servem de argumentos para a defesa dos torturadores e coloca a sociedade brasileira na condição de refém de criminosos impunes e acima da Lei. Essa impunidade é um convite a novas agressões aos direitos humanos por outros agentes do Estado atual. Exigimos que a Advocacia Geral da União faça uma retratação pública de sua posição equivocada e se coloque ao lado da Justiça e da Verdade, contra a tortura e os torturadores.
Assinam:
- Fórum Permanente de ex-Presos e Perseguidos Políticos do Estado de São Paulo
- Grupo Tortura Nunca Mais
- São Paulo- Associação dos Anistiados e Aposentados do Estado de São Paulo
- Paraná- Comissão de Familiares de Presos Políticos Mortos e Desaparecidos
- Fórum de Anistia e Reparação do Estado do Rio de Janeiro
- Instituto Sedes Sapientiae
- ADNAM - Associação Democrática e Nacionalista dos Militares
- Comitê Catarinense Pró Memória dos Mortos e Desaparecidos Políticos
- Memorial dos Direitos Humanos – Santa Catarina
- Observatório das Violências Policiais – São Paulo
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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A primeira vez que eu morri

Corria o ano de 1976. Na Praça da Matriz, numa tarde ensolarada de domingo em plena ditadura militar, duas belas “hippies” convidam Paulinho Gal Costa e a mim para fumar um baseadinho no pátio lateral da Catedral Metropolitana. Mais pelas garotas e menos pelo baseado, fui. Mal a erva foi acesa abre-se a porta do salão paroquial e eis que aparece o Cardeal Don Vicente Scherer no mesmo momento em que estaciona o preto e branco camburão da polícia. Paulinho e as meninas entram no salão paroquial e o cardeal fecha a porta. Eu salto o muro dos fundos e como da boca do lobo para a do leão caio no jardim do palácio Piratini, sob a mira das metralhadoras dos guardas da amurada, sem documentos, sou preso e encaminhado à delegacia de polícia na rua Demétrio Ribeiro. A recém instalada 1º delegacia tem suas duas celas em obras, sendo os presos colocados em uma área sem cobertura na parte interna da casa de três andares, em meio a delinqüentes de vários calibres aguardo a vinda de uma equipe da temida delegacia de Furtos & Roubos para ser interrogado. Porque razão a furtos e roubos? Não sei, e nem esperei para descobrir. Passado minutos nesse local noto que toda a fiação elétrica da casa corre junto ao canto da área, sem pensar duas vezes, deixando os chinelos, (pois em pleno verão passeio só de calções, camiseta e chinelos), descalço escalo os três andares da delegacia sob o olhar cúmplice dos presos, chego ao telhado e rapidamente pulo para o telhado da casa contígua e dessa para uma terceira, agora só falta alcançar com um pequeno salto o muro que separava o terreno baldio da rua de cima. O problema foi às telhas dessa última casa quebrarem-se sob os meus pés e eu despencar no vazio e cair, como bola na caçapa, em um tanque de lavar roupas cheio de roupas de molho e olha que era um tanque pequeno, caio eu um centímetro para o lado estou no mínimo paraplégico, machuco apenas o pé esquerdo que bate em um engradado de garrafas provocando um pequeno corte. Levanto-me e chego ao terreno baldio da Rua Fernando Machado, sigo para a rua Duque de Caxias e logo à General Portinho e em seguida a rua da Praia. Consigo chegar até em casa, parece coisa inventada, mas é fato acontecido lá nos meus distantes dezesseis anos. Foi à primeira vez que eu morri.
Confira também; http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/primeira-vez-que-eu-morri_26.html
e http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/segunda-vez-que-eu-morri.html e http://ratoqri.blogspot.com/2008/08/terceira-vez-que-eu-morri.html  ehttp://ratoqri.blogspot.com/2008/10/quarta-vez-que-eu-morri_29.html e aqui "a quinta vez que eu morri";  http://ratoqri.blogspot.com/2011/04/minha-fala-e-um-elogio-experiencia-e.html. http://ratoqri.blogspot.com.br/2011/04/sexta-vez-que-morri.html e aqui o poema que me inspirou; http://ratoqri.blogspot.com/2011/02/poema-em-linha-reta.html , a escrever a série "As sete vezes que morri", que como podem notar ainda falta a última. Todos os contos são de ficção e qualquer relação com a realidade são mera coincidência.

A terceira vez que eu morri

O erro foi termos levado às gêmeas em casa à noite em Alvorada. Conhecemos as gêmeas na pracinha da ACM onde estudávamos. Duas gatinhas “cocotas”, era moda na época, calças bem justinhas, estourando e ressaltando a beleza. O Paleta conquistou uma e eu a outra, alto agarra-agarra na ponte de pedra dos açorianos e depois uma esticada na beira do Guaíba, quase um motel ao ar livre na época, 1977. Depois de um vinhozinho ao pôr-do-sol fomos levar as gatas em casa. Moravam em Alvorada, que naquele tempo já era super barra-pesada, nós apaixonados fomos levá-las até a porta de casa. Eu com um casaco novo das lojas Renner, de costas em couro e pele sintética na frente, uma breguice só, mas na época eu achava o máximo, recém ganho de aniversário de dezessete anos. Na volta, no escuro, o Paleta me inventa de atalhar por dentro da praça central de Alvorada, um breu danado, claro que antes do meio da praça fomos assaltados. Dois caras, um branco magrinho e um baixinho negro com uma garrucha de dois canos. Tira toda roupa, falou o magrinho. O amigo se pelou no ato, eu encostado numa árvore temendo pelo meu casaco novo fiz o pior erro que uma vítima pode fazer em um assalto, disse; a mim ninguém assalta. Os dois não esboçaram reação contrária, continuaram recolhendo as roupas e objetos do Paleta. Eu observando aquilo pensei; aceitaram o meu blefe. Depois que o magrinho juntou tudo do Ike o baixinho sem me olhar apontou a arma e disparou um tiro, os dois fugiram correndo. Caí de joelhos, o Paleta gritava, olhei pra minha barriga arroxeada, pensei; vou morrer, abri as calçar, mas não vi sangue nem ferimento. Atravessamos a praça e fomos embaixo de um poste de luz, nada, só o vergão do impacto. Quando vou abotoar as calças Lee vejo o botão torto. Fui salvo pelo botão das calças Lee. Parece a história do dólar furado, mas aconteceu comigo, tenho o recorte da calça com o botão amassado pelo tiro. Foi à terceira vez que eu morri.

A quarta vez que eu morri


Quem conheceu a praia da Pinheira em Santa Catarina no ano 1983 sabe o que é estar numa região exuberante, ainda livre dos predadores imobiliários, onde a mata atlântica livremente encontrava o oceano e no sopé dessa mata uma pequena aldeia de pescadores. Meu irmão, um amigo e eu estamos a nos proteger do forte sol da manhã degustando uma cachacinha marisqueira quando surge à procissão do “Divino Espírito Santo” que antecede a procissão dos barcos no dia de navegantes. Festa maravilhosa, com todos os moradores da aldeia carregando estandartes coloridos e cantando ladainhas que nada tinham a ver com os cantochões católicos da minha infância. Sentimo-nos num especial de tv da national geographic. Claro que nos juntamos à festa, já que além da beleza, comportava em passar de casa em casa provando guloseimas e tomando cerveja. No final somos convidados pelos pescadores a embarcar e seguir pelo mar. Depois de meia hora de cantigas e ladainhas religiosas e muitas, mas muitas doses de cachaça marisqueira decidimos abandonar o passeio nadando até a praia que vista do barco nos parecia próxima. A calmaria do mar e a energia dos vinte poucos anos nos garantiriam a empreitada. Péssima idéia, depois de dezenas de braçadas com a sensação de não sair do lugar, eu já não enxergava os barcos nem meus companheiros e a praia continuava a mesma distância. Com fortes câimbras comecei a flutuar, o sol estava escaldante. O desespero, o silêncio, o susto, o medo e o pavor, quase me paralisaram, mas a consciência me alertava que isso seria fatal, dessa forma tive que apreender a raciocinar sobre forte tensão. Enchi os pulmões de ar e me deixei afundar relaxando todos os músculos do corpo e assim fui alterando braçadas com períodos de mergulho relaxante. Passados nessa maratona aquática trinta ou quarenta minutos, não saberia precisar, senti terra embaixo dos pés e cambaleando cheguei até a praia, onde desmaiei, mas antes conferi que meu irmão e o amigo também haviam sobrevivido e já se encontravam estirados na areia. Dormi das dez da manhã às quatro horas da tarde, acordei “bronzeado” só de um lado do corpo, estilo picolé de dois sabores. Foi a quarta vez que eu morri.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Dureza

"Que dureza o Lula ter que aguentar Jobim, que ele nomeou para a imprensa parar de martelar no factóide do apagão aéreo e para atender o PMDB e ter dele apoio no Congresso. Que dureza maior ainda ter que aguentar o Gilmar Mendes, estratégicamente colocado lá pelo cavaleiro da triste lembrança ( FHC ). Aguentar Mangabeira Unger e seu sotaque hiper ridículo. ( Sem falar no seu histórico ). Que dureza para o Lula. Ter aguentado Zé Dirceu e Waldomiro. E ter que aguentar nego chamando-o direto e reto de omisso, frouxo. Que dureza. E ainda assim manter a dignidade, a postura, o equilíbrio, o bom senso, a serenidade. E apresentar resultados para o país nunca vistos antes. Com a imprensa escrita, falada e televisada metendo- lhe o cacete noite e dia. Podem dizer o que quiserem, mas esse Lula é de outra linhagem. Só as muito bestas não conseguem reconhecer. Nada mais será como dantas no quartel das antas."
Esse foi o comentário de um anônimo no blog do Azenha, http://viomundo.com.br/ , é de uma lucidez extremamente difícil no calor da batalha, é tipo de ficha que na maioria das pessoas só cai 40, 50 anos depois.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Bandido sangue bom

Cara de Cavalo inspirou obra de Hélio Oiticica
Houve um tempo em que os bandidos mais temidos do Rio de Janeiro roubavam caminhões de leite e gás que se aventuravam nas favelas do subúrbio carioca para distribuir a mercadoria roubada entre seus moradores. A cena foi reconstituída recentemente no longa-metragem Cidade de Deus. No filme do diretor Fernando Meirelles, co-dirigido por Kátia Lund, os assaltantes do Trio Ternura aparecem distribuindo bujões de gás nas ruas do conjunto habitacional da Zona Oeste. Era início dos anos 60.Contemporâneo de Mineirinho e Lúcio Flávio, Manoel Moreira, o Cara de Cavalo, era adepto dessa 'estratégia' Robin Hood de roubar dos ricos para dar aos pobres. O último romântico dos bandidos cariocas morou até os 16 anos na antiga favela do Esqueleto, onde hoje existe a UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), no Maracanã (Zona Norte).
"Cara de Cavalo era um garoto levado mas tinha muita consideração com os moradores. O padrinho dele morava lá e ele vivia no Esqueleto. Quando a polícia estava por perto, ele sumia. Mas sempre aparecia novamente", lembra a dona-de-casa Cleonice Pereira da Silva, de 63 anos, que viveu no Esqueleto até 1962, quando a comunidade foi extinta e ela então se mudou para a Vila Kennedy, em Bangu.
Cara de Cavalo tinha ligações com o jogo do bicho e atuava principalmente na região da Grande Tijuca. Ele começou garoto realizando pequenos furtos e vendendo maconha na Central do Brasil. Depois se tornou cafetão na zona do meretrício. Apesar da fama, Cara de Cavalo não tinha em seu currículo ações espetaculares ou assassinatos cruéis. Era bem diferente dos bandidos figurões de hoje em dia. Ganhava dinheiro fácil percorrendo os pontos do bicho e recolhendo sua comissão. Isso até 1964, quando matou com um tiro de sua Colt 45 o temido detetive de origem francesa Milton de Oliveira Le Cocq, despertando a ira dos policiais da época. Cara de Cavalo foi então caçado implacavelmente durante quatro meses, entre maio e agosto de 64. Cerca de 2 mil homens de todas as delegacias da cidade participaram da operação. Os detalhes da perseguição foram acompanhados diariamente pela imprensa carioca.
Cara de Cavalo tinha apenas 23 anos quando foi morto, com mais de cem tiros, no seu esconderijo perto de Cabo Frio, na estrada para Búzios. Entre os policiais que presenciaram os últimos momentos do bandido estavam Hélio Vígio, ex-diretor da Divisão Anti-Seqüestro, e Sivuca (depois eleito deputado estadual com o lema "bandido bom é bandido morto"). Segundo o laudo pericial da época, o bandido foi atingido por 52 tiros, sendo 25 somente na região do estômago. O corpo de Cara de Cavalo foi coberto com um cartaz com o símbolo da caveira com duas tíbias cruzadas e a inscrição EM (leia-se: Esquadrão da Morte).
O repórter policial Luarlindo Ernesto, que trabalhou muitos anos na editoria de polícia do Jornal do Brasil, e que acompanhou de perto a caçada ao bandido, declarou certa vez em entrevista ao livro Reportagem policial (Faculdade da Cidade, 1998):"Outro assunto interessante foi o Cara de Cavalo, um bandido sem nenhuma importância que entrou no noticiário policial. Foi um mito construído pela imprensa, um bandido muquirana, tinha uma mulher na zona, assaltava ponto de bicho em Vila Isabel e fumava uma maconhazinha, não era um bandido de expressão. O azar dele foi que o banqueiro de bicho chamou os amigos policiais e pediu para eles darem um sumiço no cara. Os policiais foram dar uma dura e, naquela afobação de prendê-lo, um policial matou um colega. Botaram a culpa no Cara de Cavalo e isso motivou uma caçada implacável ao jovem bandido, que tinha apenas 23 anos. (....)Depois da perseguição, ele ficou vivo apenas mais um mês ou dois. Lembro que, durante essa caçada, um dia fui com outro repórter, o Oscar, para o Morro do Juramento. Lá, consegui através de outro bandidão da época, o Murilão, chegar até o Cara de Cavalo. Mas o bandido queria mil cruzeiros para falar. Era muito dinheiro. No caixa da Última Hora só havia 600 contos, queria um milhão. Nada feito e ele aproveitou e fugiu, desaparecendo. Continuamos no caso, conseguimos botar uma espécie de empregada doméstica na casa da mãe dele. A mulher interceptou uma carta do Cara de Cavalo, localizamos o endereço do remetente, fomos atrás novamente. Chegamos a falar com ele, mas o bandido não quis nada. Numa dessas visitas, a polícia nos seguiu, foi lá e matou o Cara de Cavalo. A perseguição toda demorou um mês e meio, com mais baixas entre a polícia. Lembro do Le Cocq e do Perpétuo de Freitas, policial que foi morto por um colega nessa perseguição ao Cara de Cavalo".Um ano após a morte de Le Cocq nascia no Rio a Scuderie Le Cocq, formada por policiais militares e civis que queriam vingar a morte do detetive. Um de seus presidentes foi o delegado Luiz Mariano, que anos depois afirmou ter dado o primeiro tiro em Cara de Cavalo. A versão capixaba dos escudeiros, que foi montada em 1984 e se tornou sinônimo de grupo de extermínio, é acusada de quase dois mil homicídios, alguns deles envolvendo políticos do Espírito Santo.Conforme documento da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), "as investigações revelaram a existência de uma associação criminosa que se dedica à prática de narcotráfico, controle de jogos ilícitos e homicídios; e cuja estratégia de ação consiste em controlar o funcionamento das instituições públicas, subverter a hierarquia funcional nas corporações policiais civil e militar, garantir a impunidade dos responsáveis pela prática do crime e substituir-se às instituições públicas".
A morte de Cara de Cavalo voltou a ser destaque na imprensa carioca quando o artista plástico Hélio Oiticica, que usou a marginalidade social, a repressão política e a revolta individual como tema de suas obras nos anos 60, homenageou o bandido com dois de seus trabalhos mais polêmicos. O primeiro foi um bólide (caixa de madeira, plástico ou vidro) com uma foto do bandido caído numa poça de sangue. Depois, criou um estandarte com a reprodução da foto e a inscrição: “Seja marginal, seja herói”.
Cara de Cavalo e Hélio Oiticica freqüentaram juntos rodas de samba em favelas cariocas. Sobre o amigo, Oiticica escreveu: "O crime é a busca desesperada da felicidade autêntica, em contraposição aos falsos valores sociais".
Assim como Oiticica, outros artistas dos anos 60 também usariam a bandidagem como inspiração para seus trabalhos. A glamurização do crime seria ainda beneficiada pelo cobertura sensacionalista da imprensa carioca.
A artista plástica Lygia Clark também falou sobre a bandidagem dos anos 60 e o tráfico de drogas nas favelas:“Na nossa época (Lygia e Hélio Oiticica freqüentavam a Mangueira), o máximo que tinha era um pouco de maconha, de cheirinho-da-loló. Conheci o Mineirinho, a mulher dele, Maria Helena, e o Cara de Cavalo. Eram bandidos românticos. Poderiam até atirar num policial, o que significava que estariam jurados de morte. Mas você podia freqüentar o morro inteiro. Agora não, você não entra no morro se não tiver autorização do chefe da droga. O narcotráfico fez da favela uma coisa doente.Trecho da entrevista de Hélio Oiticica sobre a obra "Homenagem a Cara-de-Cavalo":“Conheci Cara de Cavalo pessoalmente e posso dizer que era meu amigo, mas para a sociedade ele era um inimigo público nº 1, procurado por crimes audaciosos e assaltos – o que me deixava perplexo era o contraste entre o que eu conhecia dele como amigo, alguém com quem eu conversava no contexto cotidiano tal como fazemos com qualquer pessoa, e a imagem feita pela sociedade, ou a maneira como seu comportamento atuava na sociedade e em todo mundo mais. Esta homenagem é uma atitude anárquica contra todos os tipos de Forças Armadas: polícia, Exército etc. Eu faço poemas-protestos (em Capas e Caixas) que têm mais um sentido social, mas este para Cara de Cavalo reflete um importante momento ético, decisivo para mim, pois que reflete uma revolta individual contra cada tipo de um condicionamento social. Em outras palavras: violência é justificada como sentido de revolta, mas nunca como o de opressão”.

Marcelo Monteiro

Texto publicado no Catálogo da exposição Whitechapel Experience.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Desenhistas graças a deus!


Antes de Leonardo da Vinci, pintores, desenhistas, escultores e arquitetos, por mais ricos, famosos e prestigiados que fossem, eram vistos essencialmente como artesãos, pois na Idade Média e no início do renascimento ainda se tinham as artes plásticas na conta de mero trabalho manual, inferior à literatura ou à música. Leonardo revolucionou esse conceito. Para ele, desenhar era uma atividade basicamente cerebral. Desenho e pintura, a seu ver, superavam todas as outras artes. O artista, achava ele, tinha de representar basicamente “os movimentos da mente humana”. A primeira etapa – limitada às aparências - era só o primeiro passo. Já a representação dos “movimentos da mente” – apreensão do caráter através dos gestos e expressão – constituía o verdadeiro desafio. E de que forma apreendemos os movimentos da mente se não a exercitando? É do questionamento, da diversidade de opiniões, do debate político e filosófico que alimentamos o nosso desenho. Seria muito prejudicial cinco séculos depois de Leonardo, voltarmos a limitar a arte a sua mecânica artesanal. Queiramos ou não o fazer artístico sempre foi campo fértil para a discussão política. Sorte nossa ter existido Leonardo.
Ilustração; lápis de cera e aquarela,Simch

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Reflexões sobre a cultura HipHop

Companheiro, concordo em parte , mas volto a afirmar que generalizar o hiphop como "coitadismo" é uma visão equivocada. Quando tu dizes; "Eles não pregam outra sociedade, só querem ter acesso aos bens da burguesia". Em primeiro lugar é uma aspiração legítima, ou não é? Em segundo, almejar ter acesso aos bens da burguesia, já é pregar "outra" sociedade. Talvez nenhuma teoria da esquerda assuste tanto a burguesia do que essa "hiphopiana" de almejar acesso aos bens burgueses. Tu cobras dos hiphops uma postura objetiva ou uma proposta revolucionária clara; "vou virar essa mesa!" Mas esquece que a gênese do movimento se deu nos miseráveis e analfabéticos guetos negros e latinos dos EUA, onde imperam as maiores chagas sociais, e dizer isso não é apologia ao coitadismo, é apologia a verdade histórica. Não é um movimento de teóricos, não tem muitos filósofos, poucos são os ensaios sobre o tema, tem alguma influência dos Panteras negras, Dr. Martin Luter King e Malcon X, mas é muito mais orgânico, dinâmico e mutante, como a sociedade que o abriga. É movimento de múltiplos discursos, muitos deles equivocados, mas daí a desprezar todo um movimento que queiramos ou não, nas duas últimas décadas mudou a face da sociedade em vários aspectos, seja na música pop, na moda, nas artes plásticas, na publicidade . Mudou a própria forma do negro enxergar a sí e ao sistema e desse mesmo sistema em cooptar muitos de seus expoentes, vide os clips com rappers coberto de jóias, e peles e limusines e sexualidade explícita. São imagens emblemáticas e por vezes ridículas, como ridículo são os burgueses com seus iates, diamantes e helicópteros na Côte d’Azur. Mas o x da questão é que historicamente, toda vez que o negro propôs algo direto, ( mesmo as reinvindicações mais básicos do ser humano), foi chacinado pelo adversário. A revolução negra é muito mais sutil e complexa, e gato escaldado por séculos de escravidâo não tem mais a ingenuidade de bater de frente com um opressor poderosíssimo. A cultura hiphop , analisada com um olhar mais cuidadoso, vai nos revelar o verdadeiro milagre que operam historicamente os negros, que é o de transformar dificuldades em genialidades criativas como por exemplo transformar em menos de dez anos, os andrajos que os vestiam nos becos em estilo, e de estilo em moda e com essa moda vestir toda a juventude da sociedade mais rica do planeta, "O seu filho quer ser negro, quem diria?" Mano Brown. E o que tu chamas de coitadismo, no caso das desgraças e misérias descritas nas letras de rap, é 100% verdade."Mais uma negra com seu filho no braço nessa floresta de cimento e aço!" Não acho que a denúncia direta de sua desgraça seja "coitadismo" , e sim o principal passo para a mudança.
Confesso que também não sou lá muito fã de hiphop, principalmente o americano, mas jamais desprezaria o movimento como um todo.
Valeu!
abraço
Simch

domingo, 20 de julho de 2008

Uso de drogas: liberar ou reprimir?

...Recentemente, tomamos conhecimento da opinião emitida por Bruce Michael Bagley, Ph.D. em Ciência Política na Universidade da Califórnia e consultor sobre tráfico e segurança pública: “A política antidrogas é um fracasso. As drogas estão mais baratas, mais puras e mais acessíveis do que nunca. E o consumo de drogas aumenta ao redor do mundo”. Diante de voz tão autorizada, torna-se visível o esgotamento da fórmula de repressão, principalmente por causa da ausência de resultados positivos, uma vez que tanto o tráfico quanto o consumo só têm aumentado... O álcool e o cigarro são as substâncias responsáveis pelo maior número de mortes não-naturais no Brasil. Segundo dados fornecidos pela ONU, 1,5 bilhões (!) de pessoas sofrem de alcoolismo no mundo. Apenas 55 milhões são dependentes de drogas ilegais. A esse respeito, aliás, pesquisa patrocinada por uma entidade governamental francesa, em 1997, concluiu que o álcool causa maiores prejuízos ao organismo humano que a maconha. Apesar disso, como “droga doméstica”, o álcool é permitido e até estimulado, enquanto a maconha é proibida. Por quê?
Finalmente, já que ingressamos irremediavelmente em uma época de preponderância exclusiva da “economia de mercado”, com a liberação do uso das drogas os governos se livrariam dos tormentos da repressão, de seus custos elevados e de suas infindáveis possibilidades de corrupção, com duas fantásticas vantagens adicionais: ganhariam com a cobrança de imposto sobre o consumo legalizado e, em curto prazo, liquidariam com a existência de organizações criminosas que estão à frente do comércio ilícito das drogas e que estão associadas a outras formas de criminalidade, como assaltos, homicídios, contrabando de armas de fogo de pesado calibre, para ficar nos exemplos mais vistosos. Vendidas livremente, quem precisaria de traficantes para consumir? São evidências tão óbvias que a gente fica na certeza de que há algum entrave muito poderoso impedindo a introdução dessa discussão na agenda político-social do país. O momento é gravíssimo e já ultrapassou os limites da tolerabilidade. A hora é de adoção de medidas urgentes e heróicas, que exigem coragem e visão precisa do futuro. Caso contrário, não teremos nenhum.
Sávio Leite Pereira
Clique no link para ler o texto completo

quinta-feira, 17 de julho de 2008

11 de setembro

Esperar sempre foi para muitas pessoas motivo de ansiedade e com Everaldo não era diferente. Há vinte minutos aguardava Sonia, sua noiva que conseguira um cargo importante numa multinacional americana. Apreciando a paisagem da Big Apple sabia que as mulheres exerciam com grande competência tarefas que historicamente tinham sido exclusivas dos homens. Orgulhava-se de Sonia que com seu diploma na bagagem encarara um país estrangeiro e vencera, só não gostava de esperar, ainda mais naquela altura vertiginosa. Idéia da moça que queria comemorar o reencontro num monumento da cidade, mas Everaldo havia imaginado a estátua da liberdade, o museu de arte moderna, talvez algum ponto turístico na bahia de Houston, jamais imaginara que sua noiva escolheria o topo de uma das torres gêmeas. O homem que desde a infância tinha fobia de altura suportava a vertigem pelo amor a Sonia. No 22º andar, eufórica, a mulher aguardava o elevador social ao qual fazia jus pelo cargo conquistado. Ciente de seu atraso, não via o momento de encontrar o amado e contar-lhe que trabalhava naquele prédio. Isso mesmo, regozijava-se em pensamento, ela, brasileira de cidade do interior do Brasil, trabalhando no prédio mais alto de Nova York. Símbolo do capitalismo mundial. Esforçara-se muito para conseguir a função de diretora adjunto no escritório comercial da Boston & Boston Corporation, que possuía meio andar no prédio do Word Trade Center. Everaldo no topo da torre misturava impaciência e expectativa, ansiedade potencializada pela vertigem de altura. Era sua primeira viagem a América do Norte, mal falava o idioma, razão pela qual já tinha sido taxado de “cucaracha” pelo motorista do táxi que o trouxera ao prédio e ainda tivera de subir pelo elevador de serviço. Começara a sofrer a discriminação na própria carne. Mas não queria decepcionar a noiva com suas reclamações terceiro-mundistas. E Sonia realmente transbordava de alegria naquela ensolarada manhã. Quando o elevador chegou, apenas funcionários do segundo escalão estavam no móvel vertical, (nome chique para elevador), pois diretores e presidentes das grandes corporações só vinham à tarde, quando apareciam para trabalhar. O estrondo chegou com segundos de atraso. Primeiro o elevador transformou-se em forma de ampulheta, como uma lata de refrigerante amassada bem ao meio. A cabeça da bonita ascensorista parara no colo de Sonia, decepada por uma das tantas laminas de aço que compunham o elevador social, em seguida, em meio ao ruído ensurdecedor, os cabos se romperam e a caixa metálica teve queda livre até o térreo matando a todos no seu interior. Everaldo, no terraço, com meio corpo para fora do parapeito nem tentou entender o que acontecia e superando o medo de altura, conseguiu voltar para o topo num esforço digno de super-herói de história em quadrinhos. A laje do terraço envergada começou a ruir levando consigo as pessoas que ali estavam. O homem batendo em antenas, pedaços de ferro, caixas de ar condicionado despencou oito andares e caiu num recinto cheio de escombros, onde desmaiou. Foi acordado pelo barulho da segunda torre desabando em chamas, nesse instante em meio ao inferno de gritos e sirenes, vislumbrou por uma fresta sob os entulhos de vidro, aço e concreto, algo parecido com a cabine de um avião. A enorme cápsula estava retorcida na imensa sala que ele se encontrava. E entre o pavor da tragédia e o alívio de apenas sofrer ferimentos leves ficou em pé. Com um pedaço de ferro conseguiu tirar o único piloto vivo do bico da aeronave. O homem não usava o tradicional uniforme dos aviadores comerciais, vestia roupas civis, parecia catatônico. Everaldo o sacolejou, deu vários tapas em seu rosto até reanimá-lo. O piloto levantando-se e ignorando seu salvador, olhou para fora do prédio, depois se voltou para Everaldo e sorrindo, disse algumas palavras numa língua que o ex-noivo também não compreendia, só identificando a palavra Alá. Depois disso, com os olhos cheios dágua falando um inglês sem sotaque deu um forte abraço em Everaldo, que continuou sem compreender nada. Os dois homens perderam a conta dos lances de escada que desceram juntos, entre entulhos, cadáveres e desabamentos, superaram os terríveis obstáculos. No segundo andar conseguiram saltar no amontoado de pedras e escombros passando por uma retorcida ventana metálica. Help! Gritou Everaldo, até ser socorrido por uma das inúmeras equipes de resgate que já se encontravam no local. Tentava dizer que havia outro sobrevivente, mas na América quem não fala o idioma corresponde a ser mudo, assim como mudos são os desígnios de Alá.

To drink or not to drink

Bico-de-pena e aguada

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Esquerda e Direita



Tem gente que foge de assuntos polêmicos e procura situar-se no lugar comum dos argumentos, note-se que lugar-comum nada tem a ver com meio termo. O problema é que é justamente nestes “lugares-comuns” que reside o embrião dos enganos e engodos. Eu, às vezes sou impulsivo ao falar, ao dar pitacos em assuntos em que os mais prudentes ou espertos se calam. Num debate sobre direita e esquerda, há alguns anos no Instituto de Artes da UFRGS, depois de ouvir alguns chavões, resolvi falar, rapidamente, ainda tinha esse detalhe, um assunto tão complexo, talvez o mais complexo de todos, ser analisado rapidamente. Disse eu: em linhas gerais a direita é formada por indivíduos defendendo exclusivamente interesses pessoais ou corporativos. Já à esquerda, em síntese, não são indivíduos, mas um conjunto de idéias, de princípios, defendidas obviamente por indivíduos, mas quando estes ferem esses princípios; liberdade, igualdade e solidariedade, deixam de ser de esquerda, mas a esquerda continua viva enquanto princípio. Rapidamente alguém da plateia disse: quer dizer que quando alguém de um governo de esquerda se locupleta com o dinheiro público a culpa não é da esquerda? Respondi: exatamente isso, o ato de locupletar-se, ao contrário da direita, não está em nenhum fundamento de esquerda, portanto não foi a esquerda que errou, (liberdade, igualdade e fraternidade), mas o indivíduo, que em verdade tomou uma atitude de direita, locupletar-se, que nas suas diferentes expressões, vem a ser o cerne e o objetivo da ideologia de direita, ou seja, o lucro sem limites. Em algumas regiões do planeta isso ocorre com legislações mediadoras, em outras, beirando a escravidão, mas o objetivo sempre é locupletar-se o máximo possível. Já os princípios de esquerda defendem sempre, (condição primeira), os interesses da esmagadora maioria dos indivíduos, no caso da direita, a defesa é a dos privilégios e dos vícios de se atingir esses privilégios. A liberdade do liberalismo em suma, é a liberdade de poder explorar seu semelhante até o limite da escravidão. “Ah, mas e o os trabalhadores coreanos?” Me pergunta outro. Digo: ali o que ocorre é uma pratica de direita, produção capitalista, sem os direitos trabalhistas que a esquerda ocidental a muito custo e sangue conquistou para seus trabalhadores, ou seja; um crime de direita, mesmo que cometido num suposto regime comunista. E a liberdade tão apregoada pelo neoliberalismo requer uma pergunta: liberdade pra quem? Na verdade é a liberdade para imperar a lei da selva, em uma selvageria moderna, onde se aceita tudo que diga respeito à evolução tecnológica no campo da produtividade, enquanto nega-se ou minimiza-se tudo que diga respeito a evoluções humanistas, filosóficas ou qualquer saber humano que venha a questionar o acúmulo e a concentração e substitui-se esse saber humanista por chavões sentimentais/apelativos ou claramente preconceituosos, repetidos a exaustão. Nesse quesito tem papel fundamental às religiões e a mídia que pregam a ideologia de direita, mal disfarçada em uma solidariedade capenga e indigente a confundir e acomodar as populações exploradas. Já a liberdade de esquerda é atrelada à igualdade, pelo menos no que diz respeito às condições iniciais para competir, é competição entre iguais. Mas como toda competição fomenta pérfidos sentimentos, inclusive o de locupletar-se, os mais radicais da Assembléia Nacional Francesa, 1789, que se sentavam à esquerda do presidente da assembleia, por isso “esquerda”, propuseram complementar a base de princípios com o elemento solidariedade, (ajuda ao próximo, cooperação, fraternidade), por ser sentimento humano tão ou mais poderoso, (por estar ligado diretamente à preservação da espécie), que o egoísmo, a inveja e o locupletar-se. A grande idéia foi ao contrário de sufocar defeitos, ofuscá-los acrescentando uma poderosa virtude, daí, surgiram os princípios da esquerda; “Liberté, Egalité, fraternité”, cunhados pelo revolucionário Jean-Nicolas Pache. E assim encerrei minha participação no debate mas depois disso nenhuma afirmação dúbia dos palestrantes ficou sem questionamento, a plateia de estudantes parece que despertou e começou a fustiga-los enquanto eu saía de fininho.

Tortura

Bico-de-pena e aguada

terça-feira, 15 de julho de 2008

Dusmeu e o elogio do lumpesinato



Lá vem um, vou pedir: Moço, moço, um troquinho, um troquinho? Putz, nem me olhou, será que nem pra mendigar eu sirvo? Merda! Aí vem uma “patricinha”, uma Patrícia linda! Moça uma esmolinha? Hei, não precisa empurrar! Chiii! Foi chamar o policial. Vou fugir, me mandar, que merda! Embrenhar-me no povão, pronto, já não estão mais me vendo. Isso é bom, multidão! Liberdade na multidão. Anonimato. (Será por isso que muitos menores de rua se recusam a volta pra casa? Em contraste a apanhar do pai bêbado ou assistir a mãe sofrer, a falsa sensação de liberdade total)? Eu aqui cercado por milhares de pessoas e ao mesmo tempo invisível! Cada um na sua, cada um cuidando do seu rabo. Nos seus medos e nos seus egoísmos. Eu morrendo de fome e de frio e ninguém tem nada com isso. Só na multidão. E se nos ajudássemos? Não seria bem mais fácil? Se a prioridade não fosse eu, mas o outro? Se um ajudar o outro, se todos nos unirmos por um objetivo sincero a soma dos nossos esforços será sempre muito maior do que o meu ou o teu esforço isolados? Eu ajudaria um e teria um milhão me ajudando. Quero ser Roberto e ter um milhão de amigos, ha, ha. Que nada! O sistema não permite. Onde ficaria a competição, a livre iniciativa? A minha liberdade de morrer de fome aqui nessa calçada? O lucro? Aeeê! Aeê! Valeu! Dois pila, ganhei dois pila. O cara leu autopiedade na minha testa. Vou fazer a mesma cara, aí vem à tia. Oi tia, uma esmolinha? Valeu senhora! Cinco pila, beleza! É tem gente que dá um troquinho legal. Não faz nada? Pois saiba otário, é muito mais difícil ser vagabundo, morar na rua, ser escorraçado por todo canto, apanhar da polícia, passar frio e fome do que qualquer profissão que tu possa imaginar, não vem dar moral de cuecas aqui, queria ver tu dançar descalço em baile de cobras! Foi embora o trouxa. Olha esse senhor. Meio perdido, cara de “dusmeu”, é dusmeu, dusmeu é uma gíria da cadeia, o chefe de uma facção tem seus putos, que ele chama de dusmeu, (esses são dos meus), entendeu? 99% das gírias nascem na cadeia. Hoje na rua tratam dusmeu como abreviatura de “dos meus amigos”, mas na real é dos meus putos, sacou? Ô chefe, um troquinho pra ajudar? Ajudar o que? Ajudar em tudo, ajudar a me sentir melhor, fazer um desgraçado sorrir! Aeeê. Valeu! O senhor é dusmeu. O mundo precisa de mais pessoas como o senhor. A ironia? Ahh, tem que ter ironia, é o que me resta. Se eu não tiro uma onda o bicho me corrói por dentro. Que bicho? Fica na miséria, atolado em problemas, sem a metade dos dentes na boca e desempregado que tu descobre qual é o bicho. Morro, mas tiro a minha onda, ó, ó, ó pronto, quinze pila, já vai dar pro arroz com feijão e pras passagens da mulher, derrepente até uma pinguinha e depois cantar um Odair pra nega; eu vou tirar você desse lugar... me embriagar, ficar doidão e dizer que tudo vai mudar, é só o saci cruzar as pernas e o morcego doar sangue. É a Dionara trabalha em casa de família, faz faxina e não pode se atrasar. Nunca entendi bem essa denominação; casa de família? Quer dizer que casa de pobre não é família? Que frio! Eu? Eu vou pra obra, sou pedreiro, fumo pedra, he, he! É um rap; sou pedreiro, hê, fumo pedra, hê! Sacou? Mas vou confessar; de vez em quando eu gosto de vir aqui pro centro, bem esfarrapado esmolar, só estudando a reação das pessoas. As expressões, as sinceridades, as crueldades. A vida é boa até juntando papel na rua, valeu? É incrível. Sou quase um antropólogo, heim? Que loucura! Se eu to bem fudido, até os fudidos me alcançam algum, e vejo na cara deles que sobem um degrau na pirâmide, no fundo, pedindo dinheiro to fazendo um bem pra essa gente. É, mas já to viajando demais e vou me atrasar prus "morde e assopra", o que é os "morde e assopra"? Na próxima eu conto, tchau!

domingo, 13 de julho de 2008

Exposição de que?

Você entra no espaço expositivo, a luz é fraca, mas todo o ambiente é claro, com piso, teto e paredes pintados de branco. A sua direita na primeira sala, um segurança estático devidamente enfatiotado tem um fone preso à orelha, no meio do recinto, parada, uma segurança recebe de cima para baixo um leve facho de luz, na sala seguinte, um terceiro segurança encostado à parede é foco de forte iluminação. Um pequeno corredor o leva a última peça do espaço, onde dois seguranças, também focos de forte iluminação, um gordo e outro magro, colocados em cantos opostos descrevem uma linha diagonal na sala retangular. Você está saindo e alguém que vem entrando lhe pergunta; essa exposição é sobre o quê? Qual a sua resposta?