segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Tinta


Acrílica s/ papel.
 Simch

Tinta

No atelier o som do computador
Toca velhas músicas na jovem rádio
O pintor coça as picadas dos mosquitos
A tinta escorre do pincel como se dinheiro para compra-la fosse farto
A obra está pronta, só falta existir
Assim como a paz e o fim da fome no mundo

Um inseto cai no copo de bebida
O artista o engole junto com a  morna cerveja
Tudo é demorado, com exceção do tempo
Esse senhor que nos leva das fraldas a mortalha
Uma pincelada é necessária para que outras a acompanhem

A morte apareceu na tela reluzente da máquina nova
O rock and roll começou a mostrar que não era para homens velhos
Arte, outra música ou fugir da morte?
Um pássaro bateu no vidro, namorando o próprio reflexo
Vivo, quero continuar vivo dizia o pássaro antes de cair exausto no chão.

As janelas estão abertas
As portas e frestas também, porque morrer?
Sem muito cuidado a ave foi atirada nas sombras da noite
Sumiu na escuridão da floresta.
A escuridão da floresta só é boa para os pássaros e os pintores


Simch