terça-feira, 23 de março de 2010

Miguel do Rosário analisa Arnaldo Jabor


Por Miguel do Rosário
Sei que meus detratores vão falar que o blogueiro continua vampirizando a grande imprensa. Já respondi a isso alhures, não vou repetir agora. Dane-se. Esse artigo do Jabor é divertido demais. Não posso deixar passar essa oportunidade. O cara voltou a ficar depressivo. As tertúlias no barzinho do Millenium não lhe fizeram bem.
Com perdão do palavreado chulo, NUNCA VI TANTA VIADAGEM!
Não me chamem de homofóbico, por favor. Estou em São Paulo, rodeado de amigos gays, e eles são hiper bem-humorados e resolvidos nessas coisas. Assim como se fala "machão", ou "mulherzinha", temos também o "viadinho". É um termo insubstituível. Querer eliminá-lo, aí sim é homofobia.
Tudo bem então? Posso continuar na boa?
O cara exagerou nos remédios, mêu!
Não tem preço ver o Jabor tão tristinho. Será que sua depressão tem algo a ver com o crescimento de Dilma nas pesquisas? Será? Ele começa acusando o governo de lhe roubar... a inspiração. Lula deu um nó na cabeça do pobre cineasta.
Comento nos intervalos do texto, em letra azul escuro.

A anormalidade ficou "normal"
Arnaldo Jabor

Quando comecei a escrever, jurei que jamais abriria um artigo com a velha técnica: Estou diante da página branca...mas falta-me um assunto ou a tela vazia do computador brilha pedindo um tema nada me ocorre. Jamais usei esta desculpa de articulista sem inspiração. E mantenho a promessa. Só que hoje não sou eu que estou sem assunto é o Brasil. O governo nos surripiou, entre outras coisas, o assunto. Lula repete o espetáculo permanente inventado por Jânio Quadros. E seus atos e fatos pautam o país.
É uma forma sutil de controlar a imprensa, obrigando-a a discutir ou refutar factoides que nos lançam o tempo todo. Somos obrigados a discutir falsas verdades, denúncias vazias, em meio ao delírio narcisista de que o Brasil é Lula, de que existimos para celebrá-lo ou odiá-lo.
Denúncias vazias? Acho que foi ato falho, héin?
Este primitivismo paralisa os acontecimentos nacionais. Ou pior, parece acontecer muita coisa no país, mas nada de real está se concretizando, além do óbvio previsto: estouro das contas públicas, obras de pacotilha, empreguismo, ideologismo ridículo e terceiro-mundista. Os escândalos parecem acontecimentos.
Nada de real acontecendo? Acho que FHC andou dando muita maconha pro Jabor...
O PT encobre falcatruas em nome do poder, que eles chamam de ideal socialista ou algo assim. Tudo que acontece se coagula, coalha como uma pasta, uma geleca, um brejo de não acontecimentos onde tudo boia sem rumo. Ou então são eventos disparatados: um dia Lula está com o Collor; no outro, com o Hamas.
PT, o bicho-papão... Mas, que eu saiba, é o DEM que tem governador preso... E o Lula enlouqueceu Jabor: um dia com Collor, outro dia com Hamas, ah, meu Deus, esse Lula não sossega... Devia ter ficado quieto lá em Garanhuns...
Uma visão crítica e racional sobre o Brasil ficou inútil. A maior realização deste governo foi a desmontagem da Razão. Podemos decifrar, analisar, comprovar crimes ou roubos, mas nada acontece. Fica tudo boiando como rolhas na água. A sinistra política de alianças que topa tudo pelo poder planeja com descaro transformar-se numa espécie do PRI mexicano.
Desmontagem da razão... Uau! Governo Lula é o Heidegger da política! Ou seria Foucault? Ou Deleuze? Sei lá. Jabor agora decifra, analisa e comprova crimes e roubos!!! Faltou dizer que julga e condena! Pensei que essa tarefa cabia às autoridades competentes, conforme reza a Constituição, o bom senso e a democracia... Para Jabor, no entanto, nada disso tem valor. O que vale é seu EGO todo-poderoso, diante do qual o país deve se recolher em sua insignificância de merda.
Desmoralizaram o escândalo, as indignações, a ética (esta palavra burguesa e antiga para eles)... Esses pelegos usurparam os melhores conceitos de uma verdadeira esquerda que pensa o Brasil dentro do mundo atual, uma esquerda que se reformou pelas crises do tempo, antes e depois da queda do Muro de Berlim. Eles se obstinam em usurpar o melhor pensamento de uma genuína esquerda contemporânea, em nome de uma verdade deformada que instituíram.
Verdadeira esquerda? Onde está este Santo Graal? Ah, já sei. Está em algum lugar na sala de estar de Arnaldo Jabor. Genuína esquerda contemporânea? É um novo partido? GEC? Jabor poderia citar um representante desse GEC? Unzinho só?
Sinto-me um idiota (mais do que já sou, ai de mim...) e parece que ouço as gargalhadas barbudas de velhos sindicalistas como Vaccari, Vaccareza,Vanucci: Ahh, pode criticar...
estamos blindados, tanto quanto os companheiros Sarney ou Renan....
Agora sim, Jabor falou a verdade. Quanto ao companheiro Renan, Jabor está sempre esquecendo que ele foi MINISTRO DA JUSTIÇA DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO... Agora virou leproso, mas em tempos fernandistas, era uma pessoa cheirosa e agradável.
As velhas categorias para explicar o Brasil morreram. Já há uma pós-corrupção, uma pós-direita (disfarçada de esquerda).
Pós-corrupção? Jabor às vezes é inteligente demais para um pobre mortal compreendê-lo...
Somos uma sopa onde flutuam as eternas colunas sociais, com os sorrisos e as bundas nuas, as velhas madames e as novas peruas, os crimes, as balas perdidas, as revoltas nas prisões.
Ã? Essa da sopa e colunas sociais soa como um lamento por sua nova vidinha entre peruas...
Já vivi épocas de cores mais vivas. O pré-64 era vermelho, não só pelas bandeiras do socialismo, mas pelo sangue vivo que nos animava a construir um país, romanticamente.
Uh! Sangue vivo, antes... Hoje o sangue é morto...
Era ilusão? Era. Mas tinha gosto de vida. A minha esquerda já foi sincera. Hoje é esta trama pelega.
Ué? Em outros artigos, Jabor mete o pau na esquerda de sua época. Chama todo mundo de hipócrita para baixo. E agora vem dizer que era sincera? Claro, a esquerda da qual Jabor participou era a única boa da história...
E a ditadura de 64, aquele verde-oliva que nos cercou como uma epidemia de vil patriotismo? Era terrível? Sim. Mas nos dava o frisson de lutar contra o autoritarismo ou de sermos vítimas das porradas da Historia. Já passei pelas drogas e desbundes da contracultura, pelos depressivos anos cinzentos post-mortem de Tancredo, passei pelos rostos amarelos e verdes do impeachment, pelo azul da esperança do Plano Real. E hoje? Qual é a cor de nosso tempo? Somos uma pasta cor de burro quando foge, uma cobra mordendo o próprio rabo, um beco sem saída disfarçado de progresso, graças à vitalidade da economia que o Plano Real permitiu.
Ah, a ditadura era tão boa, né? Sim. Nos dava o frisson... E senti uma lufada de bem estar quando li a frase "azul esperança do Plano Real". De fato, o desemprego na época era de quase 15%... mas e daí?
Somos tecnicamente uma democracia, que é vivida como porta aberta para oportunismos, pois a cana é menos dura... Democracia no Brasil é uma ditadura de picaretas. O povão prefere um autoritarismo populista, e os intelectuais sonham com um socialismo imaginário que resolva nosso bode capitalista, quando justamente o injusto capitalismo seria a única bomba capaz de arrebentar nosso estamento patrimonialista de pedra. Quem quiser alguma positividade é traidor.
Eta povinho ruim, sô! Prefere autoritarismo populista! Eta cambada de intelectual safado! Bando de subversivos! Coitado dos que querem "positividade" (que será isso?)! Toda positividade será castigada!
A miséria tem de ser mantida in vitro para justificar teorias velhas e absolver incompetência. A Academia cultiva a desigualdade como uma flor. Utopia de um lado e burrice do outro impedem a agenda de nossas reformas urgentes, essenciais para nossa modernização, que grossos barbudos chamam de neoliberalismo.
Taí a viadagem-mor. Grossos barbudos. É demais.
Nos USA, tempo é dinheiro; no Brasil, a lentidão é a mola mestra do atraso. O Brasil gira em voltade si mesmo. Somo feitos de sobras do ferro-velho mental do país, de oligarquias felizes e impunes, de um Judiciário caquético, das caras deformadas de políticos, das barrigas, das gravatas escrotas, da gomalina dos cabelos, das notas frias, da boçalidade dos discursos, dos superfaturamentos, tudo compondo uma torta escultura, um estafermo fabricado com detritos de vergonhas passadas, togas de desembargadores,bicheiros, cérebros encolhidos, olhos baços, depressões burguesas, hipersexualidade rasteira, doenças tropicais voltando, dengue, barriga dágua, barbeiros e chagas, cheiros de pântano, ovos gorados,irresponsabilidades fiscais, assassinos protegidos no Congresso, furtos em prefeituras, municípios apodrecidos, decapitações, pneus queimados,ônibus em fogo.
Ulálá. Nos USA! Nem a sigla em português o cara usa. É United States of America, porra! Lá o tempo é grana. Aqui é essa lentidão de merda! Barrigas! Gravatas escrotas! Gravatas escrotas? É isso! Um dos grandes problemas nacionais são essas malditas gravatas esquisitas que os políticos usam!
No caos não há eventos. Para haver acontecimentos, tem de haver uma normalidade a ser rompida. Mas nada acontece, pois a anormalidade ficou normal. Tenho a sensação de que uma coisa espantosamente óbvia e sinistra está em gestação. Por isso,gosto de citar a frase da bruxa do Macbeth: Something wicked this way comes (Shakespeare). Tradução: Vem merda por aí!... Nossa chance única de modernização pode virar um chavismo cordial.
Agora pegou pesado. Sensação de que uma coisa espantosamente óbvia e sinistra está em gestação... Gostaria de saber o que pode ser espantoso e óbvio ao mesmo tempo... Finalizando: o chavismo! Dilma é Chávez de saia! Saiam do país enquanto é tempo!

Escrito por Miguel do Rosário
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