sábado, 25 de março de 2017

A Doutrina do Choque - É a destruição e o esfacelamento de um país em vários

http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com.br/2017/03/brasil-um-pais-sem-estado-e-o-objetivo.html
http://guerrilheirodoentardecer.blogspot.com.br/

sábado, 4 de março de 2017

Crônicas Centrais 04

O samurai da Caixa

A Caixa tem seu nome não por algum objeto e sim pelo fato de que, entre as ruas Gal. Canabarro e Gal. Portinho, na Rua dos Andradas, bem ao centro da quadra existira uma agência de um banco de mesmo nome, daí, Caixa, ou turma da Caixa. Em meados dos anos 1970 o inverno de Porto Alegre era bem mais rigoroso, isso antes de o homem conseguir desequilibrar a natureza a tal ponto de fazer , por vezes 37, quase 40 graus em um verão que na minha infância atingia 27º no máximo e já era o suficiente para mergulharmos no Guaíba ou invadir a 'piscina' do Tribunal de Contas.
Mas como disse, naquela época ainda fazia frio de 4 a 14 graus no máximo, em invernos rigorosos, por vezes chegando aos 0º. Com o acréscimo do vento Minuano que dificultava o caminhar de um homem adulto e derrubava no chão, velhos e crianças, a maioria nem saia de casa em dias de forte vento ou saiam acompanhadas de quem lhes assegurasse o equilíbrio.
E foi em uma noite dessas que o fato se deu em um boteco, ex pulgueiro da velha Cila, agora comprado e reformado por japoneses, pai, mãe e dois filhos, um menino e uma menina, ambos quase adolescentes. O bar ficou bonito, desinfetado, desratizado, com novas mesas e cadeiras artesanais, certamente feita pelos próprios imigrantes nipônicos, ventilador de teto e uma variedade de saborosos salgadinhos, pastéis, bolinhos de galinha e carne, sanduíches prensados, uma novidade na época. Certa noite estavam nesse boteco, espalhados pelas mesas, Marcelinho da Gema, os saudosos Maninho e Rogerinho, Zeca Mazzeron, Nicanor, Lauro Foguinho, Alemão Ike,  Fumbi, Dondoca, Moacir, o irmão mais velho do Spock, eu e algumas meninas sentadas na porta lateral,  Márcia Barata, Regina Teina Farina e mais algumas que não sei precisar. O Minuano não dava trégua com seu zumbido e ar gelado em uma noite fria mas seca, agradável  para ficar na rua. Depois de várias caipiras e cevas, Lauro Foguinho e Nicanor foram acertar suas despesas, até porque o japonês já os estava quase expulsando devido a seus estados alterados, o dono dizia em um português confuso: 'pocura otu bá', traduzindo; procura outro bar. Entre reclamações e discussões os dois foram pagar a conta, só que o japonês não possuía registradora, talvez pela dificuldade que tinham com a numeração ocidental. Usavam uma calculadora muito interessante, de origem chinesa chamada soroban, onde duas traves verticais sustentam fios com esferas de madeira que fazem contas exatas, mas só compreensíveis por entendidos.
Estava feita a confusão, Lauro Foguinho, normalmente da paz, se revoltou contra o velho oriental e o chamou de ladrão, Nicanor também brigou e se recusou a pagar. O velho de dedo em riste dizia desaforos ininteligíveis a todos, pois reza a lenda que estrangeiros quando brigam falam na língua mãe. O Foguinho chamou o velho para briga, já na rua, os dois frente a frente na porta do bar, o Lauro transtornado da pinga e o Japa estático, mas com sangue nos olhos. A galera na expectativa. Lauro foguinho, em um frio de renguear cusco, tira a roupa, casacão, blusão, manta, camisa e camiseta e fica só de calças e tênis, já roxo de frio mas com a moringa cheia de cachaça começa a caminhar de ré, dá uns quinze passos e vem em uma corrida meio mambembe em direção ao Japonês impávido. Um metro antes de alcançar o adversário, Lauro faz um paradinha, ou seja, todo o impulso tomado foi em vão e ele dá com a sola do pé no dono do bar que desaba no chão, não pela potência do golpe mas pela surpresa da parada, para quem esperava um violento ataque foi cena ridícula que já puxou a primeira leva de gargalhadas. Só que dentro do bar e ninguém havia notado, pois todos atentos ao embate, o filho do Japonês dispara uma flecha estilo samurai, era endereçada ao Lauro, mas com a paradinha pegou no braço do Nicanor e atravessou, esse começou a sacudir o braço e berrar de dor. A galera diante de tal situação não conseguiu acudir ninguém pois a gargalhada generalizou-se compulsivamente. Entre mortos e feridos todos se salvaram. Mas desde então em cima da prateleira das bebidas, tal qual as velhas Winchesters nos saloons do velho oeste, ficava um arco, como a alertar os afoitos; tu não és japonês, mas abre teu olho. 
Essa foi a história do Samurai da Caixa.

Eduardo Simch

Obs: O fato tanto pode ser verídico como pura ficção, fica a critério dos leitores

quarta-feira, 1 de março de 2017

Crônicas Centrais 03

A Caixa - 01-

A Caixa tinha sua independência. Nos sentíamos os bacanas da área central e tínhamos uma certa  proteção e ligação direta com a turma do Alto da Bronze, pela sua pracinha com quadra de esportes, pois na nossa área onde hoje é a Praça da Harmonia, na época era um quartel e pela admiração que todo pré-adolescente e adolescente tem pelos mais velhos e vividos. Mas indo direto ao assunto, a Caixa tinha um time fixo de uns quinze rapazes, não conto aqui as garotas, umas doze no mínimo. E como toda turma daquela época, a Caixa preservava seu espaço, qualquer intruso, ou intrusos já era motivo de bronca. Bronca séria, quem passasse pela Caixa e tomasse uma ruim da galera, nem em cem anos voltava a passar naquele trecho. Certa vez o irmão do Katito, o Bola, flutuante da Caixa, pois logo se mudaram, reclamou para a gurizada que ao passar na recém feita Av. Perimetral, tinha sido agredido por uns medonhos que ali moravam e dominavam a área. Não deu outra, no domingo seguinte a gurizada da Caixa estava em peso, uns vinte e cinco, entre os chapa quente, os meia boca e os bunda moles, aqueles que viram macho quando em quadrilha. Tínhamos uma velha técnica, o falecido Gerson Renato, o Amarelinho, brabo, emburrado, marrento, como dizem os cariocas, era o dono da bola, parava o jogo quando tomava uma canelada e ficava jogando sozinho contra a parede da igreja das dores, até o pessoal perder a paciência e lhe roubar a bola e lhe encher de cascudos, aí vinha a sua mãe e fazia um discurso em defesa do filho no meio da quadra, era uma comédia, mas voltando ao assunto, ele era sempre escalado para “comprar uma briga”, mas quando era turma contra turma ia sempre junto o Harvey, esse sim, baixinho, forte, personalidade, galo cinza, invocado de graça, imagina provocado? E o resto da catrafa ficava escondido em uma esquina próxima, a outra parte da turma em uma quadra ao lado, ou nos dividíamos em duas equipes de ataque, uma pela frente outra por trás e enviávamos os dois para o meio dos adversários, já com o intuito de "comprar" e quando os adversários achavam que iam massacrar os dois, pois estavam em maior número, atacávamos tal qual os vikings, sem trégua nem piedade.
Essa era uma técnica de combate dos caixeiros que nem Sun Tzu, general chinês, filósofo e estrategista em batalhas, podia imaginar. 
Ressalto aqui que esse texto não é um elogio à violência, apenas o retrato de uma época e a inconsequência que muitas vezes o fogo da juventude encerra no peito dos jovens. 

Eduardo Simch

Obs: O fato tanto pode ser verídico como pura ficção, fica a critério dos leitores