A Caixa - 01-
A Caixa tinha sua independência. Nos sentíamos os
bacanas da área central e tínhamos uma certa proteção e ligação direta com a turma do Alto da Bronze, pela
sua pracinha com quadra de esportes, pois na nossa área onde hoje é a Praça da Harmonia, na
época era um quartel e pela admiração que todo pré-adolescente e adolescente tem
pelos mais velhos e vividos. Mas indo direto ao assunto, a Caixa tinha um time fixo de uns quinze rapazes, não conto aqui as garotas, umas doze no mínimo. E como toda turma
daquela época, a Caixa preservava seu espaço, qualquer intruso, ou intrusos já era motivo
de bronca. Bronca séria, quem passasse pela Caixa e tomasse uma ruim da galera,
nem em cem anos voltava a passar naquele trecho. Certa vez o irmão do Katito, o Bola,
flutuante da Caixa, pois logo se mudaram, reclamou para a gurizada que ao
passar na recém feita Av. Perimetral, tinha sido agredido por uns medonhos que
ali moravam e dominavam a área. Não deu outra, no domingo seguinte a gurizada da Caixa estava em
peso, uns vinte e cinco, entre os chapa quente, os meia boca e os bunda moles,
aqueles que viram macho quando em quadrilha. Tínhamos uma velha técnica, o
falecido Gerson Renato, o Amarelinho, brabo, emburrado, marrento, como dizem os cariocas, era o dono da bola, parava
o jogo quando tomava uma canelada e ficava jogando sozinho contra a parede da
igreja das dores, até o pessoal perder a paciência e lhe roubar a bola e lhe
encher de cascudos, aí vinha a sua mãe e fazia um discurso em defesa do filho no
meio da quadra, era uma comédia, mas voltando ao assunto, ele era sempre escalado para “comprar uma briga”, mas quando era turma contra turma ia sempre junto o Harvey, esse sim, baixinho, forte, personalidade, galo cinza,
invocado de graça, imagina provocado? E o resto da catrafa ficava escondido em uma esquina próxima,
a outra parte da turma em uma quadra ao lado, ou nos dividíamos em duas equipes de
ataque, uma pela frente outra por trás e enviávamos os dois para o meio dos adversários, já com o intuito de "comprar" e quando os adversários achavam que iam
massacrar os dois, pois estavam em maior número, atacávamos tal qual os vikings, sem trégua nem piedade.
Essa era uma técnica de combate dos caixeiros que nem Sun Tzu, general chinês, filósofo e estrategista em batalhas, podia imaginar.
Ressalto aqui que esse texto não é um elogio à violência, apenas o retrato de uma época e a inconsequência que muitas vezes o fogo da juventude encerra no peito dos jovens.
Ressalto aqui que esse texto não é um elogio à violência, apenas o retrato de uma época e a inconsequência que muitas vezes o fogo da juventude encerra no peito dos jovens.
Eduardo Simch
Obs: O fato tanto pode ser verídico como pura ficção, fica a critério dos leitores
Obs: O fato tanto pode ser verídico como pura ficção, fica a critério dos leitores