quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A terceira vez que eu morri

O erro foi termos levado às gêmeas em casa à noite em Alvorada. Conhecemos as gêmeas na pracinha da ACM onde estudávamos. Duas gatinhas “cocotas”, era moda na época, calças bem justinhas, estourando e ressaltando a beleza. O Paleta conquistou uma e eu a outra, alto agarra-agarra na ponte de pedra dos açorianos e depois uma esticada na beira do Guaíba, quase um motel ao ar livre na época, 1977. Depois de um vinhozinho ao pôr-do-sol fomos levar as gatas em casa. Moravam em Alvorada, que naquele tempo já era super barra-pesada, nós apaixonados fomos levá-las até a porta de casa. Eu com um casaco novo das lojas Renner, de costas em couro e pele sintética na frente, uma breguice só, mas na época eu achava o máximo, recém ganho de aniversário de dezessete anos. Na volta, no escuro, o Paleta me inventa de atalhar por dentro da praça central de Alvorada, um breu danado, claro que antes do meio da praça fomos assaltados. Dois caras, um branco magrinho e um baixinho negro com uma garrucha de dois canos. Tira toda roupa, falou o magrinho. O amigo se pelou no ato, eu encostado numa árvore temendo pelo meu casaco novo fiz o pior erro que uma vítima pode fazer em um assalto, disse; a mim ninguém assalta. Os dois não esboçaram reação contrária, continuaram recolhendo as roupas e objetos do Paleta. Eu observando aquilo pensei; aceitaram o meu blefe. Depois que o magrinho juntou tudo do Ike o baixinho sem me olhar apontou a arma e disparou um tiro, os dois fugiram correndo. Caí de joelhos, o Paleta gritava, olhei pra minha barriga arroxeada, pensei; vou morrer, abri as calçar, mas não vi sangue nem ferimento. Atravessamos a praça e fomos embaixo de um poste de luz, nada, só o vergão do impacto. Quando vou abotoar as calças Lee vejo o botão torto. Fui salvo pelo botão das calças Lee. Parece a história do dólar furado, mas aconteceu comigo, tenho o recorte da calça com o botão amassado pelo tiro. Foi à terceira vez que eu morri.

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