sexta-feira, 29 de abril de 2011
segunda-feira, 18 de abril de 2011
A sexta vez que eu morri
Eu tinha sete meses de idade e morava na barriga da minha mãe. Lugar onde se tem tudo e nada nos falta.
A mulher passeava pelos campos da fazenda de um amigo de seu pai, na cidade de São Jerônimo, cidade onde nascera e onde o velho fora prefeito. No meio do caminho resolveu atalhar, abriu uma porteira e vendo que por ali economizaria caminhada até a casa grande pos-se a andar pelo campo.
Vaquinhas amontoadas ao longe e a senhora barriguda de seu quinto filho apreciava as madressilvas que despontavam entre o pasto. Pois não é que sinto um inesperado tremor logo no conforto inigualável do ventre materno? Ah, chutei com força e dei o alerta, minha mãe virou o rosto e viu um touro no meio das vacas raspando os cascos no chão, Um enorme animal com imensos cornos, destoando da calmaria das vacas, senti o aumento dos batimentos cardíacos da mulher, o que em mim refletiu elevado à segunda potência, senti um fluxo enorme de nutrientes entrando pelo meu umbigo, o que não era normal, pois para ganhar nutrientes tinha que remexer muito, a mãe dava o suficiente, talvez prevenindo algum problema de obesidade. O touro se destacou do rebanho e veio num trote acelerado, minha mãe começou a correr em direção à cerca, o animal acelerou as passadas,
A mulher com imenso barrigão corria com todas as forças. O touro agora galopando diminuía a distância em uma proporção geométrica. Minha mãe distava quinze metros do arame farpado, mas o bicho voava em direção a mulher, o animal vinha para matar. Num rápido movimento de cabeça ela viu a proximidade do monstro e as três próximas passadas ela as deu para o lado. O vento e o cheiro do bicho, senti de dentro do ventre de minha mãe de tão perto que o touro passou.
O animal correu ainda trinta metros até poder se voltar, tal a velocidade que veio para ataque, porém era a distância que nós precisávamos para chegar à cerca, mas como o touro preparava nova investida minha mãe correu os dez metros restantes e pôs um dos pés no segundo dos quatro arames da cerca e com forte impulso passou por cima caindo sentada fora do perigo. Senti enorme bem estar. Foi à sexta vez que eu morri.
Confira também; http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/primeira-vez-que-eu-morri_26.html
e http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/segunda-vez-que-eu-morri.html e http://ratoqri.blogspot.com/2008/08/terceira-vez-que-eu-morri.html e http://ratoqri.blogspot.com/2008/10/quarta-vez-que-eu-morri_29.html e aqui "a quinta vez que eu morri"; http://ratoqri.blogspot.com/2011/04/minha-fala-e-um-elogio-experiencia-e.html. e aqui o poema que me inspirou; http://ratoqri.blogspot.com/2011/02/poema-em-linha-reta.html , a escrever a série "As sete vezes que morri", que como podem notar ainda falta a última. Todos os contos são de ficção e qualquer relação com a realidade são mera coincidência.
Confira também; http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/primeira-vez-que-eu-morri_26.html
e http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/segunda-vez-que-eu-morri.html e http://ratoqri.blogspot.com/2008/08/terceira-vez-que-eu-morri.html e http://ratoqri.blogspot.com/2008/10/quarta-vez-que-eu-morri_29.html e aqui "a quinta vez que eu morri"; http://ratoqri.blogspot.com/2011/04/minha-fala-e-um-elogio-experiencia-e.html. e aqui o poema que me inspirou; http://ratoqri.blogspot.com/2011/02/poema-em-linha-reta.html , a escrever a série "As sete vezes que morri", que como podem notar ainda falta a última. Todos os contos são de ficção e qualquer relação com a realidade são mera coincidência.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
segunda-feira, 11 de abril de 2011
A Grande Noite dos Tempos
Estudos feitos para HQ; A Grande Noite dos Tempos, posteriormente quadrinizada por Amaro Abreu.
sábado, 9 de abril de 2011
sexta-feira, 8 de abril de 2011
quinta-feira, 7 de abril de 2011
terça-feira, 5 de abril de 2011
A quinta vez que eu morri
Minha fala é um elogio à experiência e digo que nos dias atuais seria suicídio um jovem tentar crescer trilhando caminho semelhante. Os tempos eram outros. MJ, MG e CB gesticulavam misteriosamente na esquina da Rua João Manoel com a Rua Duque de Caxias. Era metade da década de setenta. Iconograficamente imaginava estar vendo uma mescla de Led zepelim / Rolling Stones nas figuras daqueles coloridos hippies. Os garotos e eu éramos os donos da ladeira, de quase todas as ladeiras do centro e aproveitávamos o declive para mais acelerar nossos carrinhos de rolimã, porém ao entardecer os mais velhos ocupavam a esquina para tramar os agitos da noite. Disfarçando uns reparos no carrinho de lomba ouvia a conversa e pude notar que havia preocupação com a escassez de maconha. Vi que alguma negociação estava sendo feita. Aproximei-me do grupo e do alto dos meus treze anos falei; eu quero uma quina, (uma quina equivalia a quinhentos reais). Todos me olharam e MG perguntou; cadê o dinheiro Alemão Eduardo? Foi à primeira vez que alguém me chamou pelo apelido e pelo nome ao mesmo tempo criando um nome composto, pois até então ou eu era chamado pelo apelido de Alemão ou pelo nome Eduardo. Senti estar dando um salto da adolescência à maioridade, eu entrara no mundo outsider adulto, num imaginário que liquidificava hippies, beatnicks, caras-de-cavalo, (seja marginal, seja herói), Castanedas, Che Guevaras, Lamarcas e Mariguellas. Hoje entendo que não queria a linha reta, o caminho simples e seguro, eu queria me perder, mas sempre deixando migalhas para saber voltar. MJ veio até mim e quis saber do dinheiro, olhei pro beco arborizado que desce até a Rua Fernando Machado e disse; ta vendo aquele corcel branco? Aqui cabe uma explicação; esse beco era uma espécie de desova de carros roubados, depois de depenarem com o veículo, os ladrões o abandonavam no beco, os meninos e eu havíamos visto os marginais deixarem aquele carro ali. Eu sei quem dá mil reais de maconha nele, eu não sei dirigir, nós pegamos o carro e uma quina fica para vocês. Era a fascinação do pecado, o extravio, como provocavam os mestres espirituais budistas: “o extravio é belo, porque voltando nos tornamos mais profundos. Curvas e cantos escuros tornam a vida mais misteriosa, oferecem profundidade. Trilhando apenas a retidão não celebraremos nunca a existência. Somos rasos na retidão, não há profundidade. Tornamo-nos simplórios, não enriquecemos a vida, não haverá sal em nós, podemos até ser nutritivo, mas sem tempero. Porém uma vez perdidos chega o momento, não por virtude, mas por vazio, em que se enche o saco e se volta. Mas deve ser um risco calculado, pois alguns pecados não têm volta. O bom é perder-se cedo, ainda criança, para ter tempo de regressar antes que a noite caia”. Capotamos violentamente na saída da ponte do Guaíba. Todos sobreviveram. Foi a quinta vez que eu morri.
Confira o poema que inspirou e os contos anteriores:http://ratoqri.blogspot.com/2008/10/poema-em-lihna-reta.html
Foi baseado nesse poema que escrevo a série de contos;
As sete vezes que morri.
segunda-feira, 4 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
Assinar:
Postagens (Atom)