segunda-feira, 18 de abril de 2011

A sexta vez que eu morri

Eu tinha sete meses de idade e morava na barriga da minha mãe. Lugar onde se tem tudo e nada nos falta.
A mulher passeava pelos campos da fazenda de um amigo de seu pai, na cidade de São Jerônimo, cidade onde nascera e onde o velho fora prefeito. No meio do caminho resolveu atalhar, abriu uma porteira e vendo que por ali economizaria caminhada até a casa grande pos-se a andar pelo campo.
Vaquinhas amontoadas ao longe e a senhora barriguda de seu quinto filho apreciava as madressilvas que despontavam entre o pasto. Pois não é que sinto um inesperado tremor logo no conforto inigualável do ventre materno? Ah, chutei com força e dei o alerta, minha mãe virou o rosto e viu um touro no meio das vacas raspando os cascos no chão, Um enorme animal com imensos cornos, destoando da calmaria das vacas, senti o aumento dos batimentos cardíacos da mulher, o que em mim refletiu elevado à segunda potência, senti um fluxo enorme de nutrientes entrando pelo meu umbigo, o que não era normal, pois para ganhar nutrientes tinha que remexer muito, a mãe dava o suficiente, talvez prevenindo algum problema de obesidade. O touro se destacou do rebanho e veio num trote acelerado, minha mãe começou a correr em direção à cerca, o animal acelerou as passadas,
A mulher com imenso barrigão corria com todas as forças. O touro agora galopando diminuía a distância em uma proporção geométrica. Minha mãe distava quinze metros do arame farpado, mas o bicho voava em direção a mulher, o animal vinha para matar. Num rápido movimento de cabeça ela viu a proximidade do monstro e as três próximas passadas ela as deu para o lado. O vento e o cheiro do bicho, senti de dentro do ventre de minha mãe de tão perto que o touro passou.
O animal correu ainda trinta metros até poder se voltar, tal a velocidade que veio para ataque, porém era a distância que nós precisávamos para chegar à cerca, mas como o touro preparava nova investida minha mãe correu os dez metros restantes e pôs um dos pés no segundo dos quatro arames da cerca e com forte impulso passou por cima caindo sentada fora do perigo. Senti enorme bem estar. Foi à sexta vez que eu morri.
Confira também; http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/primeira-vez-que-eu-morri_26.html
e http://ratoqri.blogspot.com/2008/07/segunda-vez-que-eu-morri.html e http://ratoqri.blogspot.com/2008/08/terceira-vez-que-eu-morri.html  e http://ratoqri.blogspot.com/2008/10/quarta-vez-que-eu-morri_29.html e aqui "a quinta vez que eu morri";  http://ratoqri.blogspot.com/2011/04/minha-fala-e-um-elogio-experiencia-e.html. e aqui o poema que me inspirou; http://ratoqri.blogspot.com/2011/02/poema-em-linha-reta.html , a escrever a série "As sete vezes que morri", que como podem notar ainda falta a última. Todos os contos são de ficção e qualquer relação com a realidade são mera coincidência.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sentin un calafrio o ler o teu texto, alédome da túa nova vida.
Gonzalo dende a Galiza