Parte I
Vargas e Eusébio
Vargas: E matar?
Eusébio: Não tenho coragem, nem consigo pensar, só mato na correria e sem olhar pra trás. Matar é muito triste.
Vargas: O senhor se acha um cangaceiro moderno. Já ouviu falar de Lampião?
Eusébio: Nada. Eu sou da natureza, eu escorrego, voo, rastejo, que nem tu. Só que tu não sabes disso. Lampião não conheço, mas imagino que teria facilidades com ele.
Vargas: Lampião era uma espécie de bandoleiro revolucionário. O sr. é bandoleiro ou revolucionário?
Eusébio: Se queres destruir um guerreiro faze-o pensar sobre isso. Mas eu vou responder, pois tenho "café no bule"!
Eusébio: Eu sou bandoleiro e sou revolucionário, no Mato Grosso, no sopé da Amazônia, nas grotas. Atacamos remessa de lucro dos latifundiários e também imagino um lugar melhor para todos. Sou tão revolucionário quanto tu, a não ser que tu sejas um canalha.
Vargas: Mas o sr não acha que esse tipo de ação só fortalece uma repressão mortal e avassaladora, além de diluir idéias tão nobres?
Eusébio: Nos sertões é só o que funciona. Na ausência do Estado muitas normas são escritas com bravura, até involuntariamente. Ou faz ou morre!
Vargas: O Sr já foi a São Paulo ou Rio de Janeiro?
Eusébio; Só fui a Manaus e não gostei. Não vi humanidade! Meus pés estavam em brasa, não via a hora de voltar.
Vargas: Posso fazer uma pergunta indiscreta?
Eusébio: Tu tens medo de morrer?
Vargas: Tenho.
Eusébio: Eu também! Pode falar!
Vargas: Que porra é essa de viver tipo bicho numa utopia ridícula quase infantil?
Eusébio: Ouvi falar do Saara, imenso deserto, tribos, vidas, morais diversas. É um erro achar que não existem Oásis, extensões, iluminados.
Eusébio: Já posso dizer que a comunidade é imensa, as mulheres são lindíssimas, o amor é direto.
Vargas: Mas vocês andam a cavalo, de carroça, bebem água da chuva, evitam ao máximo o contato com "os homens", é bom viver assim?
Eusébio: Todos que estão aqui vieram por vontade própria, nenhum voltou.
Vargas: Então o sr acha que a humanidade não vale a pena?
Eusébio; Claro que vale! O que vocês vivem não é a humanidade,!Humanidade é muito mais.
Vargas: O sr se acha uma espécie de Robin Wood?
Eusébio: Não sei quem é. Mas se é como buscar a riqueza de quem tem, e esta foi extraída do suor do rosto do trabalho alheio, isso nós somos especialistas.
Vargas: Com a dura e cruel face das nossas polícias se voltando contra o sr e seu bando, quantos anos o senhor acha que vai viver?
Eusébio: Mais do que você! Ninguém nos acha! Nós somos mortos! Ninguém morre duas vezes. Eu vou até os cem anos. O lucro é o nosso armazém, vamos lá, pegamos fartamente e sumimos até a próxima empreitada, nós enfraquecemos o poder. Roubamos e a vida vai passando confortável.
Vargas: Muito obrigado pela entrevista seu Eusébio.
Eusébio: Vocês sabem o que foi acertado?
Vargas: Como assim?
Eusébio: Para sentir a sinceridade nós matamos um da equipe.
Vargas: Mas nós estamos do lado de você! Vamos espalhar a mensagem!
Eusébio: Vale o falar. Depois de falado entra para o inconsciente coletivo e o vento leva, não precisa da fofoca de vocês. Morre um e tá acabado ou morre todos.
Vargas: O senhor sabe que não vamos aceitar um crime desses!
Eusébio: Os criminosos aqui são vocês! A morte só parece ruim. Coragem!
Vargas: Mas como pode querer matar um inocente e ainda dizer que luta por justiça?
Eusébio: Pelo jeito o sr. conhece todos os membros da sua equipe.
Vargas: Sim, conheço.
Eusébio: Incluindo o motorista que lhes trouxe?
Parte II
Cabra Moacir
Vargas: Sim. É o seu Moacir. Nos trouxe até aqui, dois dias de viagem, excelente guia e mateiro.
Eusébio: Pois é, hoje trouxe vocês, há duas semanas trouxe os volantes e as milícias mataram quinze dos nossos, oito mulheres, três crianças e quatro velhos, os únicos que estavam no acampamento, pois estávamos em missão.
Vargas; Mas não é possível! O sr. deve estar enganado. Se ele tivesse feito isso acha que teria peito de voltar aqui?
Eusébio: Se digo que é ele, é ele! Onde boto o olho boto a bala e nunca esqueço uma carranca. Trouxe porque achou que não seria reconhecido, mas já o tinha visto rondando com os puliça e de mais a mais Marleninha sobreviveu. Levou seis balaços e se fez de morta. Marleninha, venha cá! Vargas estremeceu ao ver a mulher com o rosto deformado pelos balaços. É esse o cabra? Perguntou Eusébio. O único olho da mulher lacrimejou, tentou cuspir em Moacir, mas a boca mal costurada só conseguiu babar.
Marleninha: É ele, juro por esse meu olho que a terra há de comer.
Eusébio: Pode ir embora, disse para a mulher que se retirou capengueando.
Eusébio: Como queres morrer, perguntou a Moacir que já tinha uma corda no pescoço e todos os dentes quebrados a coronha de escopeta.
Moacir: Como homem.
Eusébio: Mas tu não é homem, estás vestido de homem, mas não é homem. Morrerás como mulher. Mulher doente. Morrerás de parto, parto pelo cu.
Vargas: Mas seu Eusébio, isso é um absurdo, serás tão cruel quanto aqueles a quem combate?
Eusébio: Queres fazer companhia ao alcaguete? Vargas engoliu em seco e silenciou.
Eusébio:Amarelinho! Zé Bahia! Gritou o chefe, podem empalar o cabra.
A equipe de reportagem demorou seis semanas para achar o caminho de volta. Todos voltaram com malária dos confins do sertão.
Parte III
O Final
São Paulo, 11 e 16 da manhã, Moacir atende o telefone
Eusébio: Oi, caboclo.
Moacir: Quem fala??
Eusébio: Zapata, Lampião, Che Guevara, La Marca, Marighella e todos os guerrilheiros urbanos e os assassinados no Araguaia, tu achas que sou ignorante? Já li e continuo lendo mais de seis mil livros e tenho só 54 anos.
Moacir: Seu Eusébio. Poderíamos marcar mais uma entrevista? Eu poderia fazer umas filmagens do senhor e seu batalhão, seria bom, o povo talvez gostasse e...
Eusébio: Não! O povo tá lavado cerebral e nós somos os bandidos e os mocinhos são as corporações, farmacêuticas, de agrotóxicos, armamentos. Todas acobertadas pelos estadunidenses e Israel, Às vezes a comunidade européia acompanha, quando convém. A ONU está completamente desmoralizada e não serve para nada. Nós vamos sumir na selva e abandonar de vez o ideal de um mundo melhor para todos.
Moacir: Mas vocês estão sendo perseguidos, mataram muitos policiais e eles...
Eusébio: E vamos matar todos que aparecerem pelo nosso caminho. De hoje em diante só levamos os ferros , não tem mais rádio, celular, computador, nada que um satélite possa nos localizar. Os índios nos acolhem e não paramos mais e a floresta é imensa. Podem passar cinquenta anos nos procurando.
Moacir: Mas os ideais, a revolução e a conscientização do povo?
Eusébio: Vai para a puta que te pariu. Tu só não morre agora porque estamos no telefone a quilômetros de distância, pois sei que o que queres é reportagem, sabes que nossa luta é suicida e o poder de certo modo já chegou ao povo. Escreve aí: "O capitão Eusébio, filho de Belzebu, conclama a todos os brasileiros a se revoltar contra qualquer tipo de opressão, por menor que pareça ser e se revolte. Assumam o destino de suas vidas e pautem os programas de governo em regiões organizadas. E para os torturadores e militares aposentados e acomodados com seus crimes, eu aviso, todos se não morrerem antes receberão uma visita kkkkrrrrrrbbbkarrbb....bbbbbbzzzzzzzzzz...
Moacir : Alô, alô, seu Eusébio, seu Eusébio...merda, caiu a ligação.
Parte IV
Sandra e Eusébio
Eusébio: Não tenho coragem, nem consigo pensar, só mato na correria e sem olhar pra trás. Matar é muito triste.
Vargas: O senhor se acha um cangaceiro moderno. Já ouviu falar de Lampião?
Eusébio: Nada. Eu sou da natureza, eu escorrego, voo, rastejo, que nem tu. Só que tu não sabes disso. Lampião não conheço, mas imagino que teria facilidades com ele.
Vargas: Lampião era uma espécie de bandoleiro revolucionário. O sr. é bandoleiro ou revolucionário?
Eusébio: Se queres destruir um guerreiro faze-o pensar sobre isso. Mas eu vou responder, pois tenho "café no bule"!
Eusébio: Eu sou bandoleiro e sou revolucionário, no Mato Grosso, no sopé da Amazônia, nas grotas. Atacamos remessa de lucro dos latifundiários e também imagino um lugar melhor para todos. Sou tão revolucionário quanto tu, a não ser que tu sejas um canalha.
Vargas: Mas o sr não acha que esse tipo de ação só fortalece uma repressão mortal e avassaladora, além de diluir idéias tão nobres?
Eusébio: Nos sertões é só o que funciona. Na ausência do Estado muitas normas são escritas com bravura, até involuntariamente. Ou faz ou morre!
Vargas: O Sr já foi a São Paulo ou Rio de Janeiro?
Eusébio; Só fui a Manaus e não gostei. Não vi humanidade! Meus pés estavam em brasa, não via a hora de voltar.
Vargas: Posso fazer uma pergunta indiscreta?
Eusébio: Tu tens medo de morrer?
Vargas: Tenho.
Eusébio: Eu também! Pode falar!
Vargas: Que porra é essa de viver tipo bicho numa utopia ridícula quase infantil?
Eusébio: Ouvi falar do Saara, imenso deserto, tribos, vidas, morais diversas. É um erro achar que não existem Oásis, extensões, iluminados.
Eusébio: Já posso dizer que a comunidade é imensa, as mulheres são lindíssimas, o amor é direto.
Vargas: Mas vocês andam a cavalo, de carroça, bebem água da chuva, evitam ao máximo o contato com "os homens", é bom viver assim?
Eusébio: Todos que estão aqui vieram por vontade própria, nenhum voltou.
Vargas: Então o sr acha que a humanidade não vale a pena?
Eusébio; Claro que vale! O que vocês vivem não é a humanidade,!Humanidade é muito mais.
Vargas: O sr se acha uma espécie de Robin Wood?
Eusébio: Não sei quem é. Mas se é como buscar a riqueza de quem tem, e esta foi extraída do suor do rosto do trabalho alheio, isso nós somos especialistas.
Vargas: Com a dura e cruel face das nossas polícias se voltando contra o sr e seu bando, quantos anos o senhor acha que vai viver?
Eusébio: Mais do que você! Ninguém nos acha! Nós somos mortos! Ninguém morre duas vezes. Eu vou até os cem anos. O lucro é o nosso armazém, vamos lá, pegamos fartamente e sumimos até a próxima empreitada, nós enfraquecemos o poder. Roubamos e a vida vai passando confortável.
Vargas: Muito obrigado pela entrevista seu Eusébio.
Eusébio: Vocês sabem o que foi acertado?
Vargas: Como assim?
Eusébio: Para sentir a sinceridade nós matamos um da equipe.
Vargas: Mas nós estamos do lado de você! Vamos espalhar a mensagem!
Eusébio: Vale o falar. Depois de falado entra para o inconsciente coletivo e o vento leva, não precisa da fofoca de vocês. Morre um e tá acabado ou morre todos.
Vargas: O senhor sabe que não vamos aceitar um crime desses!
Eusébio: Os criminosos aqui são vocês! A morte só parece ruim. Coragem!
Vargas: Mas como pode querer matar um inocente e ainda dizer que luta por justiça?
Eusébio: Pelo jeito o sr. conhece todos os membros da sua equipe.
Vargas: Sim, conheço.
Eusébio: Incluindo o motorista que lhes trouxe?
Parte II
Cabra Moacir
Vargas: Sim. É o seu Moacir. Nos trouxe até aqui, dois dias de viagem, excelente guia e mateiro.
Eusébio: Pois é, hoje trouxe vocês, há duas semanas trouxe os volantes e as milícias mataram quinze dos nossos, oito mulheres, três crianças e quatro velhos, os únicos que estavam no acampamento, pois estávamos em missão.
Vargas; Mas não é possível! O sr. deve estar enganado. Se ele tivesse feito isso acha que teria peito de voltar aqui?
Eusébio: Se digo que é ele, é ele! Onde boto o olho boto a bala e nunca esqueço uma carranca. Trouxe porque achou que não seria reconhecido, mas já o tinha visto rondando com os puliça e de mais a mais Marleninha sobreviveu. Levou seis balaços e se fez de morta. Marleninha, venha cá! Vargas estremeceu ao ver a mulher com o rosto deformado pelos balaços. É esse o cabra? Perguntou Eusébio. O único olho da mulher lacrimejou, tentou cuspir em Moacir, mas a boca mal costurada só conseguiu babar.
Marleninha: É ele, juro por esse meu olho que a terra há de comer.
Eusébio: Pode ir embora, disse para a mulher que se retirou capengueando.
Eusébio: Como queres morrer, perguntou a Moacir que já tinha uma corda no pescoço e todos os dentes quebrados a coronha de escopeta.
Moacir: Como homem.
Eusébio: Mas tu não é homem, estás vestido de homem, mas não é homem. Morrerás como mulher. Mulher doente. Morrerás de parto, parto pelo cu.
Vargas: Mas seu Eusébio, isso é um absurdo, serás tão cruel quanto aqueles a quem combate?
Eusébio: Queres fazer companhia ao alcaguete? Vargas engoliu em seco e silenciou.
Eusébio:Amarelinho! Zé Bahia! Gritou o chefe, podem empalar o cabra.
A equipe de reportagem demorou seis semanas para achar o caminho de volta. Todos voltaram com malária dos confins do sertão.
Parte III
O Final
São Paulo, 11 e 16 da manhã, Moacir atende o telefone
Eusébio: Oi, caboclo.
Moacir: Quem fala??
Eusébio: Zapata, Lampião, Che Guevara, La Marca, Marighella e todos os guerrilheiros urbanos e os assassinados no Araguaia, tu achas que sou ignorante? Já li e continuo lendo mais de seis mil livros e tenho só 54 anos.
Moacir: Seu Eusébio. Poderíamos marcar mais uma entrevista? Eu poderia fazer umas filmagens do senhor e seu batalhão, seria bom, o povo talvez gostasse e...
Eusébio: Não! O povo tá lavado cerebral e nós somos os bandidos e os mocinhos são as corporações, farmacêuticas, de agrotóxicos, armamentos. Todas acobertadas pelos estadunidenses e Israel, Às vezes a comunidade européia acompanha, quando convém. A ONU está completamente desmoralizada e não serve para nada. Nós vamos sumir na selva e abandonar de vez o ideal de um mundo melhor para todos.
Moacir: Mas vocês estão sendo perseguidos, mataram muitos policiais e eles...
Eusébio: E vamos matar todos que aparecerem pelo nosso caminho. De hoje em diante só levamos os ferros , não tem mais rádio, celular, computador, nada que um satélite possa nos localizar. Os índios nos acolhem e não paramos mais e a floresta é imensa. Podem passar cinquenta anos nos procurando.
Moacir: Mas os ideais, a revolução e a conscientização do povo?
Eusébio: Vai para a puta que te pariu. Tu só não morre agora porque estamos no telefone a quilômetros de distância, pois sei que o que queres é reportagem, sabes que nossa luta é suicida e o poder de certo modo já chegou ao povo. Escreve aí: "O capitão Eusébio, filho de Belzebu, conclama a todos os brasileiros a se revoltar contra qualquer tipo de opressão, por menor que pareça ser e se revolte. Assumam o destino de suas vidas e pautem os programas de governo em regiões organizadas. E para os torturadores e militares aposentados e acomodados com seus crimes, eu aviso, todos se não morrerem antes receberão uma visita kkkkrrrrrrbbbkarrbb....bbbbbbzzzzzzzzzz...
Moacir : Alô, alô, seu Eusébio, seu Eusébio...merda, caiu a ligação.
Parte IV
Sandra e Eusébio
Sandra: Alô!
Eusébio:
Quero falar com o Vargas.
Sandra: O
Vargas foi demitido e acho que faz bico em um jornal de sindicato.
Eusébio: Com
quem eu falo?
Sandra: com
a secretária.
Eusébio: E
não tem mais jornalista nesta porcaria?
Sandra: Têm.
Mas eles enviam as reportagens pelo computador.
Eusébio: Tão
tá, mocinha. Vida longa ao seu emprego.
Sandra:
Espera! Espera! O sr é aquele?
Eusébio:
Aquele quem?
Sandra:
Aquele bandido do mato. O Vargas não falava noutra coisa. Até a polícia esteve
aqui revistando tudo. É por isso que ele foi para a rua. Torturaram tanto o
rapaz...
Eusébio: Que
polícia?
Sandra:
Ah... não sei! Acho que era Federal misturada com Civil e Militar. Eram todas
as polícias. Tinha até helicóptero rondando o prédio da Redação - Eusébio! Lembrei! O sr é o seu Eusébio, né?
Eusébio: O
telefone está grampeado?
Sandra: Que
nada! O fixo foi retirado. Este é um celular quer o patrão botou.
Eusébio: Tu
és formada em que?
Sandra: Eu
fiz Ensino Médio e um curso técnico de Secretariado.
Eusébio: Teu
computador tá aberto?
Sandra:
Claro que tá! Eu estava falando no facebook com a Rosane.
Eusébio:
Então anota aí o que eu vou dizer.
Sandra:
Posso lhe entrevistar? É minha quinta secretaria em redações de revistas e
jornais.
Eusébio:
Como é mesmo teu nome? -Sandra.
Eusébio: Sandra,
pode falar!
Sandra:
Jura?
- O sr é
matador mesmo? E rouba dos ricos? E “apagou” um colega do Vargas?
-Eusébio:
Calma, moça! Respira! Aprendeu nada nestes anos de Redação.
Sandra: Desculpa!
Dizem que o morto era alcagueta, né? - O
sr sabe que deram um golpe e derrubaram uma presidenta eleita e puseram uma
quadrilha que está vendendo o Brasil e prenderam o maior líder popular, sem
provas?
Eusébio: Sim!
Sandra: Como
sim? O povo está precisando urgentemente do sr!
Eusébio: o
povo brasileiro não sabe o poder que tem.
Sandra: Não
entendi!
Eusébio: Tu
assistes televisão?
Sandra: Televisão?
– Ah! Sim! Pouco. Vejo o jornal da noite, a novela e o programa de domingo.
Eusébio: Olha,
menina! Infelizmente eu não vou perder muito tempo contigo. É justamente essa
mídia que derrubou a presidenta, botou a quadrilha e prendeu o líder, e é
contra ela, o coração do golpe, que devemos atacar.
Sandra: Mas
atacar os artistas... ?
Eusébio: Eu te
mandei anotar o que eu estou falando e não faça comentários.
Sandra: Desculpa,
espera...! O pessoal está me observando. Vou passar para outra sala. A conexão
é melhor. Levarei o celular e lá temos computador.
Eusébio:
Machucaram muito o Vargas?
Sandra: Olha
seu Eusébio. Eu não tive coragem de visitar, mas os colegas que foram disseram
que ele ficou cego de um olho.
Eusébio: A justiça
fez alguma coisa?
Sandra: Seu
Eusébio. O advogado tentou, todos os recursos foram usados e os torturadores não
foram nem a julgamento e o Vargas teve de penhorar sua casa com mãe, esposa e
dois filhos dentro para pagar as custas judiciais.
Eusébio: Senhorita!
Acho que sabes mais do que a maioria, pois se o povo tivesse essas informações
que tu tens a elite golpista já estaria pendurada nos postes das grandes
cidades.
Sandra:
Pendurada nos postes?
Eusébio:
Sim! É sempre assim que a história termina.
Sandra: Verdade?
Eusébio: É
garota! E essa História vai terminar muito antes que os ladrões, assassinos e
lesa-pátria imaginam.
Sandra: Ai...
seu Eusébio! Eu não gosto de violência! Mas
esse golpe deixou meu companheiro desempregado, vizinhos perderam suas casas,
até o armazém do seu Manoel foi vendido.
Eusébio: E
como vocês podem perder todos os direitos trabalhistas, assistir as riquezas
nacionais serem entregues a “preço de banana” para o poder profundo e ainda ir
para casa assistir à novela e puxar o saco do patrão no outro dia, bem cedinho?
Sandra: Eu
não puxo saco do patrão! Odeio esse homem!
Eusébio: Estou
fazendo uma analogia. Quando digo isso, não só a ti, digo à população do país.
Foi um prazer falar com a moça. Em breve, todos esses que ora nos saqueiam,
conhecerão o peso da mão nuclear de Eusébio Gomes da Cruz!
Sandra:
Alô...? Alô... ? Seu Eusébio? Que peso? Que nuclear? Alô...? Alô...? Merda! Merda!
Só acontece comigo! Bem... Uhhhhh... Uhhhhh... Fiz minha grande entrevista! –Reginaldo!...
Reginaldo!