A Cadela do Fascismo
Pátria mãe Brasil, o que preparaste para teus
filhos? Estás tal qual Cronos? A devorá-los?
Com breves interregnos de amanheceres e pores do sol?
O inferno de trevas volta a esmagar, estraçalhar e
assassinar um povo tropical que há mais de quinhentos anos invadido por
piratas, ladrões e assassinos, carrega as feridas nunca cicatrizadas da
escravidão, da fome, da miséria, da morte prematura, de ditaduras, golpes de
Estado e toda espécie de injustiças e crueldades.
Multidões paupérrimas em país de inúmeras riquezas,
gente sem terra em meio a imensidões improdutivas, sem casa entre incontáveis
terrenos ociosos e milhares de prédios destinados ao abandono e posterior
especulação imobiliária.
Brasil de maioria afrodescendente, que traz na
memória a chaga do ferro em brasa na carne negra de séculos de brutal
escravidão. Povo arrancado a força da África e até hoje tratado como cidadão(ã)
de segunda categoria em direitos, salários e respeito. Assim como os índios,
donos originais desse país continente, as mulheres sob o pesado tacão do
machismo e da misoginia.
Grupos sociais imemorialmente excluídos tiveram após
quinhentos e doze anos de hediondo sofrimento uma luz de esperança, cidadania,
dignidade e o iluminado direito de sonhar.
Vida e sonho que no dia vinte oito de outubro de
dois mil e dezoito foi estraçalhado por um sub-reptício conluio entre
concessões televisivas e seus tentáculos, um judiciário parcial e corrupto, a
elite mais cruel do planeta junto ao grande capital especulativo nacional e
multinacional, tudo planejado e executado pelos estadunidenses.
E como sempre, sob um verniz de eleições
democráticas, mesmo com o candidato preferido pela população brasileira e até
mundial, encarcerado sem provas depois de grotesca farsa jurídica.
A cadela do fascismo esta novamente no poder. E
desta vez explícita e com todas as unhas afiadas.
Brava gente brasileira, há de haver resistência e haverá.
O dito ensinou a todos nós: não está morto quem
peleia!
Eduardo Simch
Barcelona, 29 de outubro de 2018