sexta-feira, 25 de julho de 2008

Reflexões sobre a cultura HipHop

Companheiro, concordo em parte , mas volto a afirmar que generalizar o hiphop como "coitadismo" é uma visão equivocada. Quando tu dizes; "Eles não pregam outra sociedade, só querem ter acesso aos bens da burguesia". Em primeiro lugar é uma aspiração legítima, ou não é? Em segundo, almejar ter acesso aos bens da burguesia, já é pregar "outra" sociedade. Talvez nenhuma teoria da esquerda assuste tanto a burguesia do que essa "hiphopiana" de almejar acesso aos bens burgueses. Tu cobras dos hiphops uma postura objetiva ou uma proposta revolucionária clara; "vou virar essa mesa!" Mas esquece que a gênese do movimento se deu nos miseráveis e analfabéticos guetos negros e latinos dos EUA, onde imperam as maiores chagas sociais, e dizer isso não é apologia ao coitadismo, é apologia a verdade histórica. Não é um movimento de teóricos, não tem muitos filósofos, poucos são os ensaios sobre o tema, tem alguma influência dos Panteras negras, Dr. Martin Luter King e Malcon X, mas é muito mais orgânico, dinâmico e mutante, como a sociedade que o abriga. É movimento de múltiplos discursos, muitos deles equivocados, mas daí a desprezar todo um movimento que queiramos ou não, nas duas últimas décadas mudou a face da sociedade em vários aspectos, seja na música pop, na moda, nas artes plásticas, na publicidade . Mudou a própria forma do negro enxergar a sí e ao sistema e desse mesmo sistema em cooptar muitos de seus expoentes, vide os clips com rappers coberto de jóias, e peles e limusines e sexualidade explícita. São imagens emblemáticas e por vezes ridículas, como ridículo são os burgueses com seus iates, diamantes e helicópteros na Côte d’Azur. Mas o x da questão é que historicamente, toda vez que o negro propôs algo direto, ( mesmo as reinvindicações mais básicos do ser humano), foi chacinado pelo adversário. A revolução negra é muito mais sutil e complexa, e gato escaldado por séculos de escravidâo não tem mais a ingenuidade de bater de frente com um opressor poderosíssimo. A cultura hiphop , analisada com um olhar mais cuidadoso, vai nos revelar o verdadeiro milagre que operam historicamente os negros, que é o de transformar dificuldades em genialidades criativas como por exemplo transformar em menos de dez anos, os andrajos que os vestiam nos becos em estilo, e de estilo em moda e com essa moda vestir toda a juventude da sociedade mais rica do planeta, "O seu filho quer ser negro, quem diria?" Mano Brown. E o que tu chamas de coitadismo, no caso das desgraças e misérias descritas nas letras de rap, é 100% verdade."Mais uma negra com seu filho no braço nessa floresta de cimento e aço!" Não acho que a denúncia direta de sua desgraça seja "coitadismo" , e sim o principal passo para a mudança.
Confesso que também não sou lá muito fã de hiphop, principalmente o americano, mas jamais desprezaria o movimento como um todo.
Valeu!
abraço
Simch