BRIZOLA TINHA RAZÃO, EM PARTE. O OPERÁRIO TEM RAZÃO, EM OUTRA PARTE:
A ação contra o tráfico no Rio e a esquerda.
Gustavo Arja Castañon
“Quem poupa o lobo, condena à morte as ovelhas”
Victor Hugo
Caros companheiros da esquerda brasileira, quero dizer diretamente, que eu, carioca, não compartilho com a indignação de parte de vocês com os acontecimentos dos últimos dias no Rio.
Eles são fruto de duas coisas bem conhecidas de todos. A primeira, que só a educação pode mudar o futuro. Brizola falava quase trinta anos atrás: “Vamos cuidar de nossas crianças!”, “vamos tirá-las das ruas, dar-lhes educação em tempo integral”. Ele construiu 500 Cieps. A direita achou o programa muito caro. A classe média achou o programa muito caro. O Garotinho achou o programa muito caro. O PT achou o programa muito caro. Destruíram seu legado. Tai o preço que o futuro cobrou. O “Zeu” é uma das crianças que o Brizola queria educar e ninguém deixou.
Brizola tinha razão.
A outra causa é também bem conhecida de todos. Não se resolve o crime já instaurado com educação, com ONGs, com discurso. A educação não pode mudar o presente. O mal armado, violento, rancoroso, lucrativo, às vezes psicótico, tem que ser enfrentado com repressão. Repressão armada. Você que está lendo sabe disso. A ação repressiva do estado ao crime, é tão expressão de democracia quanto um processo eleitoral. Democracia é lei. É direito. Não é liberdade para cercear a liberdade de inocentes. A esquerda tem que parar de tratar toda e qualquer ação repressiva da polícia como repressão econômica, política e social. Isso é repugnante moralmente. Isso afasta o eleitorado trabalhador de nós, e é confundido com apologia e cumplicidade com o crime.
Brizola não tinha razão.
E pagou o preço político por estar errado nisso.
O debate destes dias no Brasil é fruto do confronto de duas visões de justiça, na minha opinião, totalmente perversas. A primeira, geralmente da esquerda, tem o foco na recuperação do marginal, preocupado com as condições de injustiça que levaram ele até onde ele está. A segunda, geralmente da direita, tem o foco na repressão ao crime para manter uma paz sem justiça, que sustente as estruturas da falta de distribuição de renda e oportunidades. É a política da vingança contra quem tira o sono da classe média alta.
Eu chamo a primeira de satânica, e a segunda de fascista. E eu vou dizer porque uso o termo ‘satânico’: é porque diante do assassinato, roubo e estupro de pessoas inocentes, dirige seu olhar não para as vítimas, mas para o coitado que se desumanizou (se não era psicopata), que se tornou um demônio criminoso. A identificação é com o demônio, não com a vítima.
O que justifica o cerceamento da liberdade de um indivíduo é somente o cerceamento da liberdade de outros indivíduos. Um criminoso cerceia a liberdade e o direito de outros indivíduos para exercer seus desejos, portanto, em nome da liberdade e dos direitos dos outros cidadãos, seus direitos, e às vezes, sua liberdade, são cerceados. Tudo além disso, é autoritarismo.
A prioridade da justiça e do aparelho repressivo do estado não é recuperar um único criminoso pra sociedade, isso é secundário. A prioridade é garantir a liberdade e a segurança dos milhares de seres humanos que ele ameaça com sua existência degenerada. Aquelas injustiças que ajudaram ele a se degenerar, quando não foi o gene (3% da população é de psicopatas), a gente luta pra mudar. Mas com os já degenerados, só a repressão. Qualquer coisa que não seja isso, está condenando as vítimas. Como dizia Victor Hugo, em "Os Miseráveis": "Quem poupa o lobo, condena à morte as ovelhas".
Diante de um criminoso contumaz, o que interessa o que deixou ele assim? Isso interessa para nossas crianças, como dizia o Brizola. O principal investimento em segurança é em educação. É, um dos dois. É o do futuro. O do presente, é a repressão daqueles que traficam, estupram e assassinam, e que nada mais pode mudar. E se pudesse, que importa? O que importa são os inocentes que estão sendo estuprados e mortos. O foco é a liberdade de todos, e não a condição daquele que está cerceando isso.
Lamento pelas mortes inocentes (de policiais e moradores) nas favelas nesses dias de incursão. É claro. É óbvio. Não é discurso inverossímil de quem não se importa com ninguém nem na hora do voto. É por essas pessoas que eu luto toda eleição.
Mas o Governo Sérgio Cabral e o Governo Lula têm que ser apoiados por estarem tentando enfrentar de frente o problema da repressão ao aparelho do crime organizado. O quanto esta política é efetiva ou está correta, nós temos que discutir. Mas nós estamos sim em guerra civil, há muito tempo, não foi a Globo ou o Bispo Macedo que inventaram isso. Quando a polícia sobe morro, os cidadãos da classe D e E correm mais riscos, quando marginal assalta e rouba no asfalto, cidadão da classe C e B corre mais risco. A culpa, nos dois casos, não é da polícia, é dos marginais.
O Governo Sérgio Cabral tem que ser criticado por uma falta de política para o futuro, que é a educação. O Governo Lula, apesar de tudo que melhorou na educação brasileira, também não priorizou a educação básica.
Mas a crítica por o Governo Cabral E O GOVERNO LULA terem começado pela zona sul o programa das UPPs e da invasão do estado, é também equivocada. O governo tinha que começar pela zona sul sim. Por três motivos. Primeiro, porque É A REGIÃO MAIS DENSAMENTE POVOADA DO RIO. Rico e classe média também é gente. Segundo, nós temos uma copa do mundo e jogos olímpicos para organizar. Podemos ser um dos maiores destinos turísticos do mundo. Isso é renda e desenvolvimento. Temos que acabar com a insegurança nas regiões turísticas do Rio. Terceiro, porque, no Rio, tem que varrer os marginais do centro pra periferia. O centro da cidade do Rio, geograficamente, é na ponta do território. Se a ação começa pela periferia, o crime se concentrará no centro (na ponta), que é mais densamente povoado e economicamente mais vital.
Não vamos mergulhar no delírio de que a Globo e a Record estão inventando o apoio dos moradores. Quando a polícia entra, esculacha, e depois vai embora, é claro que eles são contra, porque pra eles só tem a tragédia sem o benefício. Também é claro que num universo de mais de 300 mil sempre haverá ao menos 30 contra. Mas se o estado promete ficar, Deus, é tudo o que estes trabalhadores querem.
E chega de criminalizar a polícia, instituição. Chega. Isso é uma perversão. Se a polícia é corrupta, então as ONGs são corruptas, a Justiça é corrupta, o ministério público é corrupto, o governo é corrupto, a igreja é corrupta. Não. Corruptos são pessoas. As instituições são uma abstração. A polícia não é corrupta em essência, ela existe para combater formas de corrupção.
A esquerda brasileira é neste ponto tão equivocada, que muitas vezes chega a declarar que entende a reação violenta de um criminoso, mas jamais da polícia. Que essa não tem o direito de decidir quem deve morrer. Engano. Nossa lei dá esse direito. É simples: deu voz de prisão, resistiu, têm. Atirou contra a polícia ou as forças do Estado, têm. Ou o policial é o único trabalhador que deve aceitar a morte sem reagir? Meu Deus, quanta inversão de olhar.
Eu não sei se os policiais são heróis. Sei com certeza que muitos são o contrário. Mas eu sei de uma coisa, com certeza, adivinhem só: O POLICIAL É UM TRABALHADOR! E que trabalhador! Eles são as pessoas mais massacradas de toda nossa sociedade, pobres usados como buchas para assegurar a ordem de uma paz sem justiça, escrotizados como vilões assassinos pela maioria da esquerda, explorados como lixo humano pela maioria da direita, e garantindo o pouco de ordem que temos. Deus tenha piedade da alma destes homens que colocamos no esgoto por nós.
Parabéns trabalhadores da polícia, trabalhadores do exército, trabalhadores do Alemão, parabéns Governador Sérgio Cabral, parabéns Presidente Lula. Talvez o operário, trabalhador, ex-morador de comunidade carente que ensinou a direita a governar, ensine também os intelectuais de esquerda a pensarem diferente sobre política de segurança. Ou não é só a direita arrogante demais pra aprender com um operário?
Texto extraído daqui.
Um comentário:
Análise equilibrada. No mínimo enriquece - e aprofunda - este debate.
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