Por Hildegard Angel em sua coluna no JB
"Uma passeata, para ser eficiente, tem que ser legítima"
Em boa hora, os humoristas saíram em passeata na Praia de Ipanema para protestar contra a impossibilidade de se fazer piadas políticas em época de eleição. A política, como sabemos, é o filé mignon do humor de qualidade.
MAS ESSE protesto oportuno se descaracteriza e fica comprometido quando dá a entender que a censura se deve ao governo. Não é verdade. A LEI das Eleições, 9.504, data de 1997 e, na minirreforma, ganhou penduricalhos que a “turbinaram”, com substitutivos e emendas no que diz respeito ao humor, cujos autores têm nome: são os deputados, do PCdoB, Flavio Dino, candidato a governador do Maranhão, e Manuela D’Ávila(*correção abaixo). Para essa minirreforma ser aprovada no Plenário da Câmara, os deputados votaram. O TSE apenas cumpre o que está escrito.
ENTÃO, NÃO É Lula, não é Dilma, não é o ministro Lewandowski nem é o Franklyn Martins (conforme menção leviana de um dos humoristas desfilantes). São os nossos congressistas!… E ISSO os humoristas da passeata não disseram, não dizem, muito pelo contrário, querem deixar no ar a idéia de que o governo brasileiro cerceia a atividade do humor.ESSA ATITUDE dúbia, manipuladora, só tira a legitimidade de uma causa que é boa, reduzindo-a a mero instrumento de campanha da oposição.
SE NO Brasil de hoje houvesse censura ao humor, nós não teríamos visto, como vimos, no CQC da última segunda-feira, um humorista dizer que o Eike Batista “faturou” a dona Marisa Lula da Silva, nem o humorista ao lado acrescentar que “dona Marisa vai fazer uma coleira com o nome Eike escrito”. ELES SE referiam à atitude descontraída, perfeitamente natural, de ambos, durante um leilão beneficente que o programa acabara de exibir.
FOSSE UMA ditadura com censura, como a que já tivemos, na mesma hora os estúdios da Band seriam invadidos por um batalhão militar, Marcelo Tas e seus humoristas seriam presos, colocados no pau de arara, teriam a pele esfolada, a unha arrancada, o olho furado e, se dessem sorte, seriam devolvidos depois pra casa com uma coleira de pregos no pescoço. MAS O mais provável é que virassem “comida pra peixe”, como se fazia na época.
E eu não estou fantasiando. Vi e vivi este filme nos anos 70 no Brasil.
POR ISSO, senhores humoristas, façam seus protestos, sim, mas com legitimidade, pra não serem rotulados de humoristas “festivos”, como se usava dizer naquela época negra.
OUTRA COISA que está muito na moda dizer, na linha dessa “campanha do medo”, é que há censura em nossa imprensa.NUNCA ANTES neste país se espinafrou tanto (pra não usar outra palavra) um presidente, sua família, seus ministros e aliados como nesta era Lula. E com total liberdade.
JAMAIS OUVI, por exemplo, em época anterior, num programa de TV, um comentário tão constrangedor como esse do CQC em relação a uma primeira-dama. E não me venham aqui criticá-la, porque ela se dá ao respeito, sim!
NOS ANOS FHC, jamais a imprensa tocou no assunto do filho criança do presidente com uma jornalista, morando ambos num conveniente endereço bem longe, em Barcelona, na Espanha. ESSE SILÊNCIO da imprensa não era apenas uma delicadeza com a primeira-dama. Era também o receio de possíveis retaliações comerciais, judiciais, Lei dos Danos Morais etc e tal. Medo que, curiosamente, este atual governo não inspira a jornalista algum. Agora, me digam: onde está a tão proclamada “censura”?
* A Manuela diz que não é com ela, aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário