Por Nei Duclós.
Você liga a televisão a qualquer hora do dia ou da noite e aparecem três personagens, cantando, rindo, conversando, jogando, se abraçando, sacudindo os braços, atuando em novelas, shows, gincanas, bate-papos, sendo alvo de homenagens, virando personagens de filmes, conversando com Xuxa, Angélica, Faustão: Zezé di Camargo e Luciano e o cantor Daniel. Você jamais vê Edu Lobo, José Gomes, Claudio Levitan (que acaba de ganhar o Prêmio Açorianos de melhor cd infantil, com a opereta Pé de Pilão), Bebeto Alves (outro ganhador do Açorianos e super homenageado pela carreira de 23 discos). Aí, de repente, você fica sabendo que Augusto Boal morreu.Ou seja, o Boal, autor de inúmeras obras, de peças magníficas como Arena Conta Zumbi (junto com Gianfrancesco Guarnieri e músicas de Edu Lobo), autor do Teatro do Oprimido, de renome internacional, que chegou a ser indicado para o Nobel da Paz, jamais aparece na programação, a não ser em forma de necrológico. A televisão brasileira, túmulo do país, é especialista em necrológicos que soam como vingança contra o talento. Foi assim com Ingmar Bergman e tantos outros. Boal, nascido um ano depois da revolução de 1930, foi também escritor de romances e novelas, além de peças de teatro, poemas etc. Diante da gigantesca omissão, e em frente às câmaras na hora do funeral, Juca de Oliveira foi sucinto, falou pouco. Fez muito bem. Agora que morreu querem saber de Boal? Quem tem que escancarar as telas e microfones para pessoas de grande importância cultural são as redes de televisão, que ficam entupindo a população de porcarias, desses gritões que deveriam estar numa escola de música. Mas, contente-se: morto aos 78 anos de leucemia, Boal teve seus segundos de exposição na mídia. E tudo volta ao “normal”.
Leia a íntegra desse magnífico texto do poeta e jornalista Nei Duclós no blog http://www.outubro.blogspot.com/
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