quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A quarta vez que eu morri


Quem conheceu a praia da Pinheira em Santa Catarina no ano 1983 sabe o que é estar numa região exuberante, ainda livre dos predadores imobiliários, onde a mata atlântica livremente encontrava o oceano e no sopé dessa mata uma pequena aldeia de pescadores. Meu irmão, um amigo e eu estamos a nos proteger do forte sol da manhã degustando uma cachacinha marisqueira quando surge à procissão do “Divino Espírito Santo” que antecede a procissão dos barcos no dia de navegantes. Festa maravilhosa, com todos os moradores da aldeia carregando estandartes coloridos e cantando ladainhas que nada tinham a ver com os cantochões católicos da minha infância. Sentimo-nos num especial de tv da national geographic. Claro que nos juntamos à festa, já que além da beleza, comportava em passar de casa em casa provando guloseimas e tomando cerveja. No final somos convidados pelos pescadores a embarcar e seguir pelo mar. Depois de meia hora de cantigas e ladainhas religiosas e muitas, mas muitas doses de cachaça marisqueira decidimos abandonar o passeio nadando até a praia que vista do barco nos parecia próxima. A calmaria do mar e a energia dos vinte poucos anos nos garantiriam a empreitada. Péssima idéia, depois de dezenas de braçadas com a sensação de não sair do lugar, eu já não enxergava os barcos nem meus companheiros e a praia continuava a mesma distância. Com fortes câimbras comecei a flutuar, o sol estava escaldante. O desespero, o silêncio, o susto, o medo e o pavor, quase me paralisaram, mas a consciência me alertava que isso seria fatal, dessa forma tive que apreender a raciocinar sobre forte tensão. Enchi os pulmões de ar e me deixei afundar relaxando todos os músculos do corpo e assim fui alterando braçadas com períodos de mergulho relaxante. Passados nessa maratona aquática trinta ou quarenta minutos, não saberia precisar, senti terra embaixo dos pés e cambaleando cheguei até a praia, onde desmaiei, mas antes conferi que meu irmão e o amigo também haviam sobrevivido e já se encontravam estirados na areia. Dormi das dez da manhã às quatro horas da tarde, acordei “bronzeado” só de um lado do corpo, estilo picolé de dois sabores. Foi a quarta vez que eu morri.

Um comentário:

Anônimo disse...

Entao, Dua, o terno de reis era assim que cantavamos, eu no violao tu na percussa e o pele e cia na cachaca:
santo amaro vai chegar, santo amaro vai chegar, com prazer e alegria
quem tiver saudade dele, quem tiver saudade dele faz a festa no seu dia
o deus, o deus, o deus abencoe esta morada...
E assim iamos junto com a caiana, cai joao, cai marcio, cai edu...

Sds

JC